A Câmara Municipal de João Monlevade promoveu na manhã desta terça-feira (22), uma audiência pública para debater a gestão municipal na contratação de eventos culturais na cidade. O encontro, convocado a partir do Requerimento 08/2025, de autoria do vereador Revetrie Teixeira (MDB), teve como foco principal a atuação da diretora presidente da Fundação Casa de Cultura, Nadja Lírio Furtado.
Durante a abertura, Revetrie destacou que, embora reconheça os avanços alcançados nos últimos anos, a reunião tinha como objetivo esclarecer dúvidas e ouvir reclamações de artistas sobre a forma como a cultura tem sido conduzida pela administração municipal.
Presenças e representações
O plenário da Câmara reuniu diversos vereadores: Leles Pontes (Republicanos), Maria do Sagrado (PT), Carlinhos Bicalho (PP), Thiago Titó (PDT), Sinval Dias (PL), Sassá Misericórdia (Cidadania) e Marquinho Dornelas (Republicanos). Também estiveram presentes o procurador jurídico da Prefeitura, Hugo Lázaro, o assessor de governo Cristiano Vasconcelos, o coordenador de Cultura e Patrimônio Robert Miguel (Binho), além de artistas, representantes de coletivos culturais e ex-gestores da área.
Entre os participantes da sociedade civil destacaram-se a presidente do Grupo de Bombeiro Civil Profissional (GBOP), Jaqueline Patrícia, o ativista cultural Marcelo Sputnik, a artista plástica Isabela Cecília, os músicos Rogério Lima e Índio do Forró, a agente cultural Elaine de Andrade Oliveira, o empresário Luiz Carlos Freitas e o ex-diretor da Casa de Cultura, Gládevon Costa.
Ausência da presidente da Fundação
A diretora-presidente da Fundação Casa de Cultura, Nádja Lírio, não participou da audiência e enviou um e-mail justificando sua ausência. O vereador Revetrie, que presidia a sessão, apenas informou que ela justificou a ausência e se negou a ler o texto.
Porém, também à mesa, a vereadora Maria do Sagrado (PT), líder do governo, leu o texto. Nele, Nádja explicou que estava em viagem previamente agendada e que a data e o horário da audiência, marcada para o primeiro dia útil após o feriado prolongado, prejudicaram a mobilização da classe artística.
Ela ainda afirmou ter tentado contato com o autor do requerimento para propor o adiamento, sem sucesso, e se colocou à disposição para participar de um novo encontro. “Aproveito para sugerir, respeitosamente, o agendamento de uma nova audiência para após as celebrações do aniversário da cidade. Estarei então mais disponível para prestar todos os esclarecimentos necessários, com o mesmo compromisso e transparência que sempre pautaram minha atuação à frente da Fundação Casa de Cultura”, escreveu Nadja.
Revetrie, por sua vez, afirmou que se encontrou com Nádja na sede da Prefeitura, mas que ela não justificou sua ausência pessoalmente. O vereador acrescentou que recebeu uma ligação da diretora no dia seguinte, mas dessa vez, não pôde atendê-la, pois estava em uma reunião.
Críticas e polêmicas
Entre os temas mais debatidos na audiência estiveram temas como a exigência de credenciamento de artistas para participação em eventos públicos da cidade. A presidente do GBOP, Jaqueline Patrícia, questionou a dispensa do grupo de bombeiros civis voluntários nos eventos, sugerindo que houve preferência por contratações pagas sem justificativa clara.
Entre os momentos mais tensos do encontro, o ativista cultural Marcelo Sputinik fez duras críticas à atuação de Nadja Lírio. Em uma fala considerada desrespeitosa por parlamentares, ele afirmou que “um cachorro caramelo com assinatura digital, na posição que ela está, faria a mesma coisa”. Sputinik ainda acusou a gestora de promover autopromoção ao permitir que sua imagem fosse incluída em um grafite feito na sede do Coral Monlevade, em Carneirinhos, com possível uso de verba pública. O caso, segundo ele, pode ter desdobramentos junto ao Ministério Público.
A artista Isabella Gregório, que participou da criação do mural, relatou que questionou a inclusão da imagem de Nadja, mas foi informada de que a arte já havia sido aprovada. Ela também criticou o distanciamento da obra em relação à identidade do Coral Monlevade, além de cobrar melhorias no prédio e mais atenção ao Conselho Municipal de Cultura. Esse ponto também foi reforçado pela gestora cultural Sheila Malta, que criticou a forma de atuação do conselho.
Propostas
A agente cultural Elaine de Andrade destacou que um abaixo-assinado com 36 assinaturas foi entregue solicitando o adiamento da audiência. Ela reforçou a necessidade de que futuros encontros aconteçam após as 18h para garantir maior participação da classe artística e propôs a ampliação da discussão cultural para além do setor musical. “A cultura é muito ampla, não é somente o setor musical. É preciso reunir todos os artistas para este diálogo”.
Os músicos Rogério Lima e Índio do Forró relataram a dificuldade de inclusão de artistas locais em eventos da cidade. Elaine lembrou que no dia 15 de maio haverá um movimento para credenciamento dos artistas nos editais da Prefeitura. Já o vereador Thiago Titó (MDB) relembrou leis de sua autoria, aprovadas em 2017, que preveem a valorização dos músicos locais e a estrutura adequada nos eventos, e pediu esclarecimentos sobre sua efetiva aplicação.
O ex-presidente da Casa de Cultura, Gládevon Costa, relembrou os desafios burocráticos enfrentados durante sua gestão até 2012, como a exigência de laudos do Corpo de Bombeiros e comprovação da atuação artística, o que segundo ele ainda representa um entrave para muitos artistas locais.
Esclarecimentos da administração
O coordenador de Cultura e Patrimônio, Robert Miguel (Binho), explicou que a Casa de Cultura conta atualmente com apenas três servidores efetivos e nove profissionais cedidos. Ele afirmou que a contratação de brigadistas civis é uma exigência do Corpo de Bombeiros. “O que tenho conhecimento, por exigência dos bombeiros militares, a Casa de Cultura não tem autorização para executar eventos com brigadistas voluntários”. Ele ainda explicou que todos os eventos passam por análise, e avaliação do corpo de bombeiros antes do início.
Sobre o credenciamento, Binho explicou que esta modalidade é voltada para artistas regionais e locais e as remunerações são realizadas conforme cada projeto. Já para os artistas de renome nacional, são feitas as contratações por inexigibilidade. Ainda em sua fala, Binho destacou que a Casa de Cultura não é somente evento. “A Fundação, por exemplo, atende cerca de 300 a 400 pessoas que fazem aulas de piano, violino, teclado, bateria, violão, artes, desenho, artesanato, costura, entre outros”.
Por fim, Robert Binho também respondeu a críticas sobre eventos com foco em cultura afro-brasileira. “A agenda preta não é um problema. O Festival Baobá, por exemplo, custa menos que festas tradicionais, como cavalgadas e o aniversário da cidade”, comparou.
O procurador jurídico, Hugo Lázaro, esclareceu que os procedimentos adotados pela Casa de Cultura são voltados ao cumprimento da previsão legal, no que diz respeito as contratações. Ele ainda enfatizou que nos últimos quatro anos houve uma contratação elevada de artistas locais, com cerca de 190 contratações. “No Baobá, por exemplo, grupos como a Família Alcântara, Guardas de Marujos, participaram dos eventos por meio do credenciamento”.
Hugo explicou que o credenciamento dos artistas é um procedimento formal para a contratação de artistas locais e regionais. “Os artistas precisam estar credenciados e legalizados para prestarem o serviço. No credenciamento é feita a identificação e cadastros dos profissionais, que os habilita para serem contratados”, justificou. A vereadora Maria do Sagrado defendeu a gestão de Nádja Lírio, destacando os recentes avanços culturais na cidade nos últimos anos.