Todo mundo de branco. Muitos abraços, sorrisos e olhares ternos, complacentes, enfeitam os rostos. Aquela ceia memorável, como não se frui, de hábito, durante o ano, está posta sobre a mesa enfeitada. Um estímulo especial ao paladar e aos olhos. É uma festa para a qual os amigos foram convidados, alternado pessoas entre as famílias. Um pouco diferente do Natal em que, no mais das vezes, participam os familiares. Esta é uma festa para amigos. Não que parentes não sejam, mas o próprio nome enseja um grupo mais amplo: “Confraternização Universal”.
Apesar da guerra franca e aberta contra esse costume, os fogos de artifício ainda embalam a meia noite, a “hora da virada”. Com os sons e as luzes que emitem, a magia das explosões estéticas lembra figuras ou estrelas cadentes. Assim como os surdos, tocados com habilidade e força nos desfiles de carnaval ou acompanhando sambas maravilhosos, o ribombar dos fogos, para quem os admira, são como um pulso impactante a reanimar corações adormecidos, conclamando-os à vida.
Segue-se aquele momento mágico em que muitos fazem promessas das mais variadas e que, claro, desejam profundamente cumprir. Que, todavia, nem sempre têm energia ou disposição suficiente para levar a termo as juras assumidas. Em meus muitos Réveillons assisti a cenas emocionantes de pessoas que arremessavam longe ou em uma lixeira, seus vícios, suas angústias, suas manias sabidamente incômodas, afirmando convictamente que aquele seria a última vez. E eu sabia, eu tinha certeza, de que era uma verdade inquestionável… pelo menos para aquele ano, pois ao acordar, no dia 1° de janeiro, a saga se reiniciava. Ocorria também com copos ou garrafas de bebidas, derramadas com a firme convicção que a condição etílica emprestava aos promitentes.
Também assumi compromissos difíceis de cumprir e estava consciente da complexidade envolvida, por isso, optei sempre por fazê-lo sem estardalhaço, sem as explosões das festas da virada. Mais comedido, como nos doces cânticos de Natal. Validei algumas. Frustrei outras tantas, mas sempre me empenhei com energia e amor nas tentativas.
Uma dessas promessas, das raras que fiz a outras pessoas, não cumprida, ocorreu quando tinha vinte e poucos anos. Fui convidado para uma festa na casa do amigo de alguém próximo. O lugar era maravilhoso. Uma casa enorme, com três níveis, numa encosta que permitia uma vista deslumbrante. Teve lugar no terraço, terceiro pavimento que havia sido preparado com gosto e pompa para aquela ocasião. O problema (sempre há um problema!) é que a casa era muito nova e ainda não haviam sido instalados os corrimãos. A escadaria bela e larga, oferecia um desafio maior para esse sequelado de poliomielite: mesmo abertos, meus braços não alcançavam as duas paredes ao mesmo tempo, assim eu só poderia usar um dos lados como apoio e isso dificultava a subida e a descida.
Jurei à minha acompanhante, num tom grave, circunspecto e cheio de seriedade enquanto ela lançava o maço de cigarros pela borda, que voltaria a usar bengala no próximo ano. Só cumpri aos 48.