O líder do governo na Câmara de Vereadores de João Monlevade, Belmar Diniz (PT), fez um duro desabafo durante a sessão legislativa de quarta-feira (12), alegando ter sido traído pelo prefeito Laércio Ribeiro (PT). O motivo da insatisfação foi a exoneração do então secretário interino de Educação, Fabrício Brandão, indicado pelo parlamentar. A Notícia publicou a informação em primeira mão, no início da tarde de quarta-feira.
Belmar afirmou ter sido pego de surpresa com a decisão, pois não foi comunicado oficialmente pelo prefeito e que soube da troca por terceiros, além do site do Jornal A Notícia. Segundo ele, suas tentativas de contato com o prefeito até aquele momento, para esclarecer o caso, foram ignoradas, após várias tentativas.
O vereador não escondeu sua frustração por não haver sido comunicado sobre a troca, lembrando as várias ocasiões nas quais suportou críticas pesadas para proteger o governo.
Segundo Belmar, a substituição atende a um “mimo de pessoas partidárias”. Belmar, no entanto, não citou nomes. Ele ainda disse que sua esposa, a educadora Raquel Diniz, foi perseguida por defensores de mandato de um vereador, e disse sentir-se desrespeitado por Laércio.
Criticando também o PT, Belmar questionou a consideração do partido para com ele. “Qual a consideração que o prefeito e o Partido dos Trabalhadores tiveram comigo, único vereador com cinco mandatos defendendo essa gestão? Estou me sentindo um líder descartado”, declarou, visivelmente indignado.
Relembre
A troca de comando na Secretaria de Educação ocorre após um período de indefinição, que vem desde o fim do ano passado. Inicialmente, Belmar Diniz demonstrou interesse em assumir a pasta, e em fevereiro, chegou a confirmar sua transferência ao Executivo. O plano fazia parte de um arranjo político: com a ida de Belmar para a Educação, um espaço seria aberto para que o ex-vereador Gustavo Prandini (PCdoB), primeiro suplente, ocupasse sua cadeira na Câmara Municipal. Em seguida, Prandini seria deslocado para a Secretaria de Desenvolvimento Econômico, permitindo que Gentil Bicalho (PT), também suplente, assumisse uma vaga no Legislativo.
Por compromissos pessoais, ainda em janeiro, Belmar viajou e indicou o educador Fabrício Brandão como interino para organizar o início do ano letivo. Porém, o objetivo era torná-lo seu adjunto quando aceitasse o cargo. No entanto, no fim de fevereiro, Belmar decidiu continuar na Câmara como vereador.
Com a pressão para uma nomeação definitiva para o cargo (único chefiado como interino), o prefeito optou pela também educadora, Alda Fernandes. Ela já ocupou a função, quando substituiu a professora Maria do Sagrado (PT), quando ela se licenciou para disputar as eleições em 2024.
Repercussão na Câmara
O pronunciamento de Belmar chamou a atenção dos demais vereadores. Ele encontrou apoio dos colegas parlamentares, inclusive da oposição, que aproveitou a oportunidade para criticar a gestão municipal. Marquinho Dornelas (Republicano) foi o primeiro a abordar a troca de secretários. Ele lamentou que o prefeito tenha mantido reuniões recentes com os vereadores sem mencionar a decisão. Revetrie Teixeira (MDB) foi ainda mais enfático, classificando a mudança como um “tiro no pé” para o governo.
Vanderlei Miranda (Podemos) apontou o “desrespeito do prefeito” a Belmar, e enalteceu o trabalho de Brandão, classificando-o como “gigante” e “unanimidade”, além de lembrar que ele já fora secretário. Ele também declarou que a retirada de Brandão seria uma retaliação a Belmar, que desistiu de ir para a Secretaria de Educação. Bruno “Cabeção” (Avante) lembrou a reunião de terça-feira (11) entre o prefeito e vereadores, na qual a substituição de Fabrício Brandão não foi mencionada.
Leles Pontes (Republicanos) mencionou que Fabrício Brandão abdicou de suas férias em janeiro para organizar a Secretaria a tempo do início do ano letivo. Thiago “Titó” (MDB) elogiou a capacitação e a ficha de serviços prestados do agora ex-secretário. Marquinho Dornelas convidou Belmar Diniz a juntar-se à oposição, dizendo que a “chapa 2” (referência à chapa vencida nas eleições à Mesa Diretora da Câmara) tinha espaço.
Dornelas deu vazão aos sentimentos de traição e frustração de Belmar: “A gente entende que tem horas que você presta, tem horas que você não presta. Tem horas em que você se sente usado, tem horas em que você é descartado. Então, Belmar, chegou o seu dia. A roda gira, e hoje você sentiu na pele o que você talvez por vezes já viu acontecer com outras pessoas”.
Sidney Bernabé (PL) solidarizou-se com Belmar, afirmando que ele defendeu insistentemente o governo durante quatro anos, mas já não tinha mais condições de ser seu líder: “Como você pode defender um governo que te traiu dessa forma?”. Ele ainda brincou, dizendo que o PL e a chapa 2 estavam de portas abertas.
Dirigindo-se a Diniz, Alysson Barcelos (Avante) também colocou em questão as relações entre o governo e os vereadores: “Se aconteceu isso com o líder de governo, o que pode acontecer conosco?”. Ele ainda mencionou a reunião do dia anterior, dizendo que o tema não foi abordado, e os parlamentares foram informados pela imprensa.
Um questionamento parecido foi adotado por Zuza Veloso (Avante): “Se o líder do governo foi traído, imagine nós!” Carlinhos Bicalho (PP) também demonstrou solidariedade a Diniz: “Me surpreende muito você ser líder de governo por tantos anos e ser apunhalado nas costas”.
Sinval Dias (PL) lembrou o episódio de 2019 em que encostou um caderno no rosto de Belmar, afirmando que o PT “não levantou uma unha” para defender seu filiado. Ele lembrou que Belmar é filho do ex-prefeito e vereador Leonardo Diniz Dias, o primeiro prefeito petista de João Monlevade, e muitas vezes sacrificou-se em prol do partido, e bradou: “Eles são covardes, eles são ruins!”.
Defesa
Por sua vez, Maria do Sagrado (PT) subiu à tribuna e defendeu Alda Fernandes, argumentando que ela fora eleita por três mandatos como diretora da Escola Municipal Promorar e já trabalhou como coordenadora pedagógica. Maria do Sagrado ainda pontuou que a escolha dos secretários municipais é prerrogativa do prefeito, e não da Câmara Municipal. Durante seu discurso, ela adotou uma postura comedida, abstendo-se de entrar na controvérsia.
Ainda durante a sessão, Belmar Diniz agradeceu ao apoio dos colegas, citando nominalmente 13 parlamentares, inclusive os de oposição. A única ignorada pelo líder do governo foi justamente Maria do Sagrado, sua colega de partido.
Vice diz que não sabia
A vice-prefeita Dorinha Machado (MDB), que estava na Câmara, em virtude de uma solenidade em homenagem às mulheres, disse que não foi informada previamente sobre a decisão. Apesar de afirmar que respeita a prerrogativa do prefeito na escolha dos secretários, ela admitiu que só ficou sabendo após a decisão ser tomada. Dorinha ainda disse que o episódio não abala as relações entre ela e o cabeça da administração municipal.
Presidente contorna
Em meio ao embate político, o presidente da Câmara, Fernando Linhares (Podemos), interveio para encerrar a discussão. Ele destacou que, embora discorde da decisão do prefeito, a indicação de secretários é um direito do chefe do Executivo. “As pessoas estão desvirtuando o debate. Nós não estamos fazendo motim. Não estamos fazendo palanque político pra falar isso ou aquilo do prefeito. O prefeito é um homem espetacular. Um excelente gestor, um homem de caráter, de conduta ilibada, honesto e competente. Estamos falando de uma decisão equivocada que ele tomou, ao tirar o Fabrício Brandão e nomear uma nova secretária, que, diga-se de passagem, também é muito competente”, concluiu o presidente, encerrando a discussão.