(*)Erivelton Braz
“Eu sou a prova viva de que Carnaval é mais do que festa, lazer e qualidade de vida. O carnaval também é oportunidade de emprego e renda para toda uma cadeia produtiva expressiva da nossa cidade!” A frase é do prefeito de Nova Era Txai Costa (Rede), em entrevista à rádio Alfa FM, da sua cidade. Assino embaixo.
Por exemplo, o Carnaval de Belo Horizonte está com tudo. O carnaval ressurgiu em 2009 com blocos carnavalescos que protestavam contra o então prefeito Márcio Lacerda. A festa foi crescendo a cada ano com a iniciativa popular. Hoje, a capital mineira é um dos destinos mais procurados do país para os quatro dias de festa. Hotéis, bares, restaurantes, ambulantes, prestadores de serviços, táxis, ubers, supermercados, enfim, toda a cidade ganha, conforme disse o prefeito de Nova Era.
E as cidades da região do Médio Piracicaba entendem assim também e buscam fazer a festa, cada qual à sua maneira. João Monlevade acerta no Pré-Carnaval, resgatado há três anos e que tem se tornado tradição, com público de todas as idades, gostos e atrações variadas na Praça do Povo e Praça Onofre Newton Ambrósio. Lindo. Afinal, Carnaval se faz com gente na rua, com alegria, com samba, com suor, batuque e axé.
Já escrevi mais de uma vez: Carnaval é a expressão do povo. E nada melhor que uma festa popular para levar à ruas, com irreverência, criatividade e ousadia, o que pensam a sociedade. E em tempos de intolerâncias diversas, nada mais legítimo do que o carnaval para ganhar as ruas.
Até porque, a maior festa popular do Brasil segue sob ataque. Todos os anos. Como alertou o professor e pesquisador Luiz Antônio Simas no ano passado: “os higienistas da casa grande querem eliminá-lo, os tubarões do mercado querem gentrificá-lo, os mercadores da fé querem atrelá-lo ao imaginário do pecado”.
Neste ano, Simas reitera que há um movimento contrário à diversidade que o carnaval representa. Recentemente, grupos conservadores têm renegado aos desfiles das Escolas de Samba da Sapucaí. Até mesmo, o carnavaIesco Paulo Barros. Isso, em virtude da maioria dos enredos deste ano tratarem de temas religiosos, da umbanda e do candomblé. O nome disso, segundo Simas, é racismo religioso.
O Carnaval incomoda aqueles que não sabem brincar, que veem desordem onde há celebração, que temem a fé e a força da alegria e da cultura do povo. Mas por que tanto pavor? Talvez porque o verdadeiro perigo não esteja na festa, mas no olhar de quem a condena. Na crítica e no veneno que escorre da boca dos faladores e apontadores de dedos. Na mão dos que cometem violência. Nos dedos de quem se esconde atrás das telas para espalhar mentiras, desinformação e ódio.
Assim, portanto, é preciso resistir. Porque o Carnaval, em si, é um ato de (r)existência. E enquanto houver gente disposta a ocupar as ruas e viver a alegria dessa festa, ele seguirá vivo. Os cães ladram, mas a escola de samba e os blocos passam. É Carnaval, graças a Deus!
(*) Erivelton Braz é editor do A Notícia e fundador da Rotha Assessoria em Comunicação