O Procon de João Monlevade lançou uma campanha para orientar a população e, em particular os idosos, contra os golpes bancários. Chamada de “Desligue o Telefone” e lançada em parceria com a Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) e o Procon Assembleia, a iniciativa quer proteger os mais velhos de chamadas maliciosas instruindo-os a não continuar a conversa, mas a interromper imediatamente a ligação, “cortando o mal pela raiz”.
A coordenadora do órgão no município, Rosa Barros, conta que os golpistas são pessoas bastante articuladas, com capacidade para conquistar a confiança da potencial vítima e, sem que ela perceba, enganá-la. Muitas vezes, eles já possuem os dados bancários e pessoais sobre ela, e entram em contato para colher ainda mais informações, como as senhas. A partir daí, os golpistas induzem essa vítima a realizar uma operação financeira, como empréstimos, sem a sua anuência.
Os golpistas, segundo o Procon, usam várias alegações, como dizer que o cidadão está com o nome inscrito nos cadastros de proteção ao crédito ou que tem direito ao reembolso de juros ou seguros indevidamente cobrados. Outras estratégias são, passando-se por uma “central de atendimento”, dizer que o consumidor realizou uma compra de alto valor em seu cartão, ou, dizendo ser do setor de segurança do banco, afirmar que houve uma movimentação anormal na conta.
O Procon também orienta que o cidadão encerre imediatamente qualquer chamada telefônica, tampouco responda a mensagens por e-mail ou em aplicativos como o WhatsApp. Caso a pessoa afirme ser o gerente da agência, o cliente deve responder dizendo que prefere tratar do assunto pessoalmente, e também encerrar o telefonema.
Novas formas
Os golpistas, segundo Rosa, são inventivos e concebem novas formas de lesar o cidadão. Uma delas é o “golpe do presente”, quando alguém chega à casa da potencial vítima para entregar-lhe um brinde ou bônus, como um jogo de xícaras ou uma caixa de ferramentas, dizendo ser uma oferta, geralmente, de lojas. Nesse momento, esse entregador tira uma fotografia do morador, que, aliada aos dados pessoais que os golpistas já possuem, servirão para contrair empréstimos e fazer operações lesivas aos clientes.
Rosa Barros ressalta que os golpistas são convincentes e, muitas vezes, já dispõem das informações pessoais de suas vítimas, vazadas de bancos de dados. Ao repeti-las, eles criam a falsa sensação de legitimidade, necessária para conseguir capturar sua presa.
O risco das dívidas
Mas Rosa Barros diz que não são apenas os golpistas que são dignos de atenção. Um simples descuido pode ser causa de prejuízos e dores de cabeça também com bancos e financeiras, principalmente, envolvendo aposentados e pensionistas. Em média, afirma, o Procon de João Monlevade realiza 400 atendimentos mensais, dos quais cerca de 80% são relativos a instituições financeiras.
Uma das modalidades mais comuns é a venda de empréstimos bancários sem o pleno conhecimento do aposentado. Muitas vezes, a dívida é induzida ao consumidor mediante dissimulados, como dizer que o idoso “tem direito a um valor retido”. Financeiras costumam contratar panfleteiros para abordar potenciais clientes, e bancos oferecem crédito na tela dos seus terminais eletrônicos ou pelo aplicativo. Dessa forma, o aposentado contrata um empréstimo sem ter pleno conhecimento sobre a operação. O dinheiro é depositado na conta, e sem ciência sobre a sua origem, o idoso o gasta e precisa arcar com o ressarcimento desse valor, com juros bastante elevados.
Rosa Barros explica o problema, considerado uma das modalidades de crédito mais populares do mercado, e que mira justamente pensionistas e aposentados: o empréstimo consignado. “Ele pode comprometer até 35% do benefício, e o cartão consignado, mais 5%. Porém, esse cartão costuma não existir fisicamente. O problema desse cartão é que, em muitos casos, a dívida pode ser renovada e durar indefinidamente”, afirma.
Outra modalidade de crédito com juros muito elevados é o carnê de crediário: durante décadas, foi a forma mais acessível para o brasileiro comum equipar a sua casa. Rosa explica qual o erro do consumidor ao contratar esse tipo de crédito. “Muitas vezes, antes de comprar, o cliente pensa apenas no valor de cada parcela. Ele ignora os juros, a quantidade de prestações e o total pago”, afirma.
Como proceder
Para descobrir os descontos, é preciso pedir junto ao Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) um extrato detalhado, que traz todos os empréstimos contraídos pelo aposentado, incluindo aqueles já quitados. Algumas operações são divididas em até 84 pagamentos, aumentando os juros e o valor efetivamente gasto para a quitação.
Rosa Barros reforça a importância da educação financeira e do planejamento das contas para evitar que as dívidas se transformem numa “bola de neve” impagável. Em muitas ocasiões, os aposentados prejudicados são pessoas muito humildes, sem instrução formal, doentes e até analfabetos. Dessa forma, os idosos e as famílias precisam redobrar a atenção, lendo com cautela para entender cada linha do contrato. Uma das estratégias para evitar ser enganado é chamar um parente mais informado, que tenha mais intimidade com as operações bancárias.
Segundo o Procon de Monlevade, quem precisa de ajuda para se livrar do endividamento ou contestar um empréstimo indevido pode recorrer ao Procon de João Monlevade. Ele funciona na Unidade de Atendimento Integrado (posto UAI), na rua Lucinda Soares da Fonseca, 36, no bairro JK, atrás do Hiper Comercial Monlevade e próxima à Câmara Municipal. Seu telefone é o (31) 3859-0606.