No último sábado (29), terminou o intercâmbio de dez meses de uma adolescente norte-americana em João Monlevade. Chloe Spencer, de 17 anos, viveu e estudou na cidade, como parte de um programa de integração cultural do Rotary Club. Antes de se despedir, ela conversou com o A Notícia sobre o período que passou na cidade.

Antes de chegar

Chloe vive com a mãe, o padrasto e os irmãos em Carmel, uma cidade de 100 mil moradores nos arredores de Indianápolis, capital e maior cidade do estado de Indiana. Desde os 10 anos, ela conta que já pensava em realizar um intercâmbio. Uma amiga de sua mãe ofereceu seu nome no programa, e ela foi aprovada. Os destinos eram a Tailândia, Taiwan, o Japão ou o Brasil, que acabou sendo escolhido. Chloe admite que conhecia pouco sobre o país tupiniquim: “Apenas o filme Rio, e o Cristo Redentor”.
A adolescente não falava nada na língua portuguesa, mas a partir de março de 2023, passou a estudar o idioma através de aplicativos como o Duolingo. A mãe de Chloe, Sarah Bearden, assume que também não conhecia muito sobre o Brasil, mas que se animou quando a filha disse que viria para o país.
A intercambista chegou a João Monlevade em 10 de agosto do ano passado, sendo recebida na casa da diretora do A Notícia, Maria Cecília Passos. Ao mesmo tempo, o filho da jornalista, Leonardo Ambrósio Passos, passou dez meses no México, também pelo Rotary Club.

A permanência

A adolescente não economiza ao dizer que gostou dos brasileiros: “As pessoas são muito boas, gentis, amistosas”. Ela percebeu que os brasileiros têm um costume de contato físico muito mais imediato que seus compatriotas: “Nos Estados Unidos, não se abraça na primeira vez que se encontra com alguém”.
Estudante do Colégio Cesp, Chloe admite que sentiu dificuldades na escola, muito por conta do idioma, a despeito da boa receptividade dos colegas. Ela diz preferir o modelo americano de Ensino Médio, em que as matérias são optativas, e os estudantes trocam de sala de aula quando mudam de disciplina, pois lá as classes pertencem aos professores.

Gastronomia

Viver noutra terra também significa degustar outra culinária. Ela conta que gostou de pratos tipicamente brasileiros, como pão de queijo, a coxinha, os salgados, a feijoada e o churrasco. Chloe também teve contato com as frutas brasileiras, como a jabuticaba, o açaí, o cupuaçu e a goiaba, além dos sucos da graviola e do caju, mas este ela não apreciou.
A intercambista também não se acostumou a, todos os dias, ter de comer arroz e feijão no almoço. Mas Chloe trouxe a João Monlevade a mais americana das receitas: a torta de maçã. Por outro lado, ela elogiou a diversidade da alimentação brasileira: “A comida saudável é mais barata aqui”.

Coração verde-amarelo

Além da estada na casa da diretora do A Notícia, Chloe também ficou hospedada na casa da empresária Elizete Vidal, do Buffet Barenze, e da chefe da Vigilância em Saúde, Viviane Ambrósio. Durante os dez meses que passou em nosso país, Chloe conheceu diversas cidades como Belo Horizonte, Ipatinga, Coronel Fabriciano, Caxambu, Lagoa Santa, Brasília, Manaus, Natal, Recife, Maceió, Lençóis, Porto Seguro, Rio de Janeiro, Búzios, Cabo Frio, Arraial do Cabo e Foz do Iguaçu.
Chloe Spencer não esconde que gostou muito do período que passou no Brasil, gravando na pele uma tatuagem com duas flores e uma palavra que apenas o português possui: saudade. Em suas palavras, “Deixo um pedaço meu aqui. Foram dez meses para fazer uma vida”, diz a jovem, que recomenda o intercâmbio para conhecer mais sobre outros países. Sobretudo, a experiência no Brasil ajudou Chloe a definir-se, a entender o que é ser americana, pelo contraste com outra cultura, e a ampliar seus horizontes. Para o futuro, ela quer estudar Literatura ou Jornalismo na Universidade de Indiana, casa de estudos com mais de dois séculos de atuação.

Rotary Monlevade já recebeu 16 intercambistas

A médica Valéria Jacintho, coordenadora do programa de intercâmbios culturais do Rotary Club em João Monlevade, explica que existem duas modalidades. Uma delas, a feita por Chloe, é voltada a estudantes de Ensino Médio, entre 15 e 18 anos, durando dez meses. Já o intercâmbio de Novas Gerações é aberto a discentes do Ensino Superior entre 18 e 30 anos, durando entre 30 e 90 dias.
Em ambas as modalidades, o aluno hospeda-se em três ou quatro casas de famílias rotarianas ou indicadas pelo clube. Nesse período, ele cumpre as regras do intercâmbio e da residência que o acolhe. Valéria explica que a permanência “não é turismo. O participante tem que cumprir tarefas”.
Desde 2014, João Monlevade já enviou 15 alunos, recebendo 16. A própria Valéria já foi intercambista, viajando em 1979 para o estado americano do Nebraska. Seus filhos participaram do programa, e sua casa já hospedou 11 estrangeiros. Segundo ela, o enfoque vai muito além do aprendizado linguístico: “É conhecer outras culturas, outras formas de viver. É expandir horizontes. No fundo, estamos contribuindo para a paz mundial”.
A opinião é semelhante à de Maurício Soares, que deixa nesta semana a presidência do clube de João Monlevade: “São embaixadores da paz e da boa vontade entre os povos. Quem participa é também um representante do Brasil no exterior”. Conforme ele, o objetivo do intercâmbio é promover a interação entre diferentes nações e culturas. Para tanto, o candidato inicia a sua preparação um ano antes de embarcar.
Valéria Jacintho também destaca que o Rotary Club fornece plena assistência ao intercambista. Para participar, o candidato passa por uma seleção. Se aprovado, seu destino será escolhido pelo clube de serviços. Os interessados em participar do programa, realizado pelo distrito 4521 do Rotary Club, podem procurar Valéria Jacintho pelo telefone (31) 98978-7623.