(*) Mário Ananias

Frequentemente se encontra alguma superstição relacionada a números, datas, nomes próprios ou de lugares, aparência da abóbada celeste com seus astros e estrelas. E não poderia ser diferente com anos bissextos. Esses anos criados para corrigir, a cada 4 anos, uma pequena diferença de um quarto de dia, anualmente. O produto de quatro vezes 25% de um dia por ano, institui o dia a mais do calendário.
Anos com essas características podem ser considerados de relativo bom alvitre para as Pessoas com Deficiência. Por exemplo, 1840 foi o ano em que se reconheceu a poliomielite como entidade clínica. Em 1908, o Poliovírus foi isolado, criando-se, com isso, as bases para pesquisas consistentes no sentido de tentar erradicar a paralisia infantil. Já em 1960, foi apresentada a vacina Sabin, utilizada até hoje, como imunizante que reduziu significativamente os casos de poliomielite no mundo. Todos anos bissextos.
Já em 1964, também bissexto, o Brasil passava por um período de grande turbulência política. Nasciam os bancos Central do Brasil e Nacional da Habitação, além da criação do Conselho Monetário Nacional. O Rio de Janeiro festejava dois presentes dos deuses: a visita da belíssima atriz francesa Brigitte Bardot; e o nascimento da maravilhosa, também atriz, Patrícia Pillar. O prêmio Nobel, que nunca foi entregue a um brasileiro, era conferido, na modalidade Paz, a Martin Luther King Jr; e pela primeira vez, na história da Europa, a espetacular atriz e cantora Dalida recebe o Disco de Platina; enquanto nos EUA se forma o excelente grupo The Mamas & the Papas, que encantou gerações e produziu canções inesquecíveis. E o Japão, menos de dez anos depois de ter sido destroçado pela Segunda Grande Guerra, numa demonstração de resiliência, dinamismo e capacidade industrial, inaugura o primeiro trem de alta velocidade do planeta.
O mundo estava agitado demais para manter enclausurado um poderoso dínamo da indústria siderúrgica brasileira, gestado entre as montanhas de Minas e banhado pelo Rio Piracicaba; assim, há sessenta anos, nascia João Monlevade, emancipada da Comarca de Rio Piracicaba, com sua pujante indústria, localizada a apenas 100km da capital, Belo Horizonte.
E já nasceu com o elevado espírito de cidade destinada a abrigar, com dignidade, pessoas, ideias e sonhos. E exportar a tantas outras praças a capacidade de trabalho e amor de que os ali nascidos são tão capazes.
O seu berço, na Zona da Mata mineira, foi embalado por bandeirantes como Borba Gato, que reconheceram naquelas terras o potencial extrativista mineral e a sua posição geográfica privilegiada.
A fase de implantação e expansão da nova Siderúrgica ocorreu a partir, em especial, de 1921, ano de nascimento da grande Maria Clara Machado e de Paulo Freire. Infelizmente, foi também o ano em que o, então, futuro presidente dos Estados Unidos, F.D.Roosevelt foi acometido pela pólio, aos 39 anos de idade.
Para além de tudo isso, a chegada de inúmeros imigrantes, de várias regiões do Brasil, e do mundo, ao embrião da cidade que experimentou uma enorme diversidade de etnias, culturas e vivências, tanto de conhecimento quanto geográficas, e esse fato produziu um povo multifacetado, bonito, agregador, simpático, com força e inteligência para o trabalho, com delicadeza e dignidade para os relacionamentos. Parabéns a esta cidade sessentona, com corpinho de 21 e sonhos de 18.

 

(*) Mário Ananias é monlevadense, servidor público, escritor, palestrante e autor do livro: Sobre Viver com Pólio. Contato: mariosrananias.com.br/ @mariosrananias