(*) Gladevon Costa

Refletir sobre o Sistema Único de Saúde (SUS) é um exercício necessário para a compreensão do que, de fato, sustenta o direito à saúde no Brasil. Comumente reduzido à imagem de hospitais lotados ou filas de atendimento, o SUS é, na verdade, uma engrenagem complexa, extensa e vital que transcende os muros dos hospitais públicos. É uma política pública que se entrelaça com a vida cotidiana de todos os brasileiros, independentemente de sua classe social, localização geográfica ou condição de saúde.
Criado pela Constituição de 1988, o SUS foi uma das maiores conquistas da redemocratização brasileira, assegurando que o acesso à saúde se tornasse um direito de todos e um dever do Estado. Essa estrutura não apenas garante atendimento médico-hospitalar, mas é responsável por uma série de ações e serviços que impactam diretamente na qualidade de vida da população. Vacinas, por exemplo, são uma das faces mais visíveis dessa atuação: campanhas de imunização em massa, como as da gripe, febre amarela ou Covid-19, são totalmente custeadas e organizadas por meio do SUS. E isso se estende inclusive à saúde animal, como no controle da raiva e da febre aftosa, evidenciando o papel do SUS na promoção da saúde coletiva e na prevenção de zoonoses que podem atingir também seres humanos.
Além disso, poucos sabem que o SUS é o responsável exclusivo pelo sistema nacional de transplantes. No Brasil, não existem transplantes de órgãos realizados por hospitais privados de forma independente, uma vez que a logística e os procedimentos relacionados à doação, transporte e compatibilidade são todos coordenados pelo sistema público. Isso significa que, mesmo aqueles que detêm planos de saúde privados dependem do SUS em situações críticas de vida ou morte.
Outro ponto muitas vezes negligenciado é o trabalho silencioso e fundamental das vigilâncias sanitárias. É graças às equipes do SUS que restaurantes, lanchonetes, clínicas e hospitais, sejam eles públicos ou privados, são fiscalizados quanto às suas condições de higiene e segurança. Sem essa regulação, a saúde pública brasileira estaria vulnerável a surtos e epidemias facilmente evitáveis.
Além disso, o SUS é também o provedor de medicamentos de alto custo para doenças crônicas ou raras, fornecendo gratuitamente tratamentos que seriam inacessíveis para a maioria da população brasileira. Através de critérios técnicos e protocolos definidos, pacientes com HIV/Aids, hanseníase, tuberculose, câncer, doenças autoimunes e muitas outras condições têm seus tratamentos assegurados por esse sistema.
O trabalho das equipes de saúde da família e dos agentes comunitários também merece destaque. São profissionais que, com frequência, visitam lares de pessoas acamadas ou em situação de vulnerabilidade, oferecendo cuidado humanizado, monitoramento e acompanhamento contínuo — uma faceta do SUS que expressa sua capilaridade e seu compromisso com a saúde integral.
Portanto, afirmar que o SUS é indispensável não é exagero: é uma constatação factual. Nenhum brasileiro, mesmo os que acreditam viver à margem do sistema público, está fora do alcance do SUS. Sua existência garante não apenas tratamento, mas sobretudo prevenção, fiscalização, vigilância e saúde coletiva. Ele está presente nos bastidores da vida cotidiana de forma silenciosa, mas determinante.
Viva o SUS! Não apenas como slogan, mas como reconhecimento de uma política pública que, apesar das adversidades, continua sendo um dos maiores patrimônios sociais do Brasil.

(*) Gladevon Costa é graduado em Jornalismo, Direito e Pedagogia