(*) Débora Guimarães
Você já esteve em uma festa de Congado? Eu já estive em várias ao longo da vida e, a cada ano, minha admiração pelos dançantes e pelas pessoas que trabalham para manter viva essa tradição só aumenta.
Não sei exatamente como tudo começou para mim, mas tenho na memória algumas lembranças bem antigas envolvendo o Congado. Sou de uma cidade que tem uma guarda atuante até hoje, mas essa não é a festa mais tradicional de lá. Mesmo assim, me recordo de, ainda criança, ter participado de um reinado como uma das meninas vestidas de princesa que desfilam junto dos reis no cortejo pelas ruas.
Lembro de ter usado meu vestido de primeira comunhão, que era bem bonito, mas sobre a festa mesmo eu pouco sabia. Essa é minha primeira lembrança. A segunda foi ter ajudado a minha mãe a produzir os capacetes da guarda de Congado da cidade vizinha, vinte e tantos anos atrás. Materiais coloridos, muitas fitas e espelhos colados. Achei tudo lindo! Essa lembrança também segue viva.
Mas foi em 2010 que eu participei como observadora e fotografei a festa em Rio Piracicaba pela primeira vez. E me atrevo a dizer, é uma das maiores, senão a maior da região. Eu havia acabado de deixar a imprensa e aproveitava as oportunidades para fotografar tudo aquilo que me despertava algum tipo de desafio. Sol forte, roupas coloridas, muitos instrumentos nas mãos e pés inquietos, saltitantes. Treinamento intensivo para uma fotógrafa iniciante e que, mais tarde, se tornaria uma das suas grandes paixões.
Naquela ocasião, postei em meu blog algumas fotos e o texto a seguir: “Lá vem a guarda pelas ruas…roupas brancas, estampadas, fitas coloridas, marimbas, pandeiros…a cantoria desperta a atenção da vizinhança e as janelas e portas das casas logo estão tomadas.
Em filas ou aglomeradas, cada guarda mostra aos homens brancos, aos negros como eles e a todos a sua fé, religiosidade, gratidão à Nossa Senhora do Rosário dos Pretos. E mostram também sua arte. Eles dançam, cantam e tocam instrumentos de percussão como os antepassados, mantendo a tradição que atravessa os séculos.
Lá vem a guarda. Experientes, mãos calejadas e roupas pesadas debaixo de sol quente. Lá vem a guarda. Crianças que já nascem saltando na ponta dos pés, com latas amarradas nas pernas, apito na boca e pandeiro nas mãos. Lá vem a guarda. Lá vem o Congado. Lá vem…
Naquele momento, eu estava apenas começando a entender sobre esse universo e ainda estou longe de conseguir explicar com riqueza de informações tudo o que essa festa representa. Quatorze anos se passaram e muitas festas eu fotografei desde então. A última foi nesse fim de semana. A cada evento, minha admiração aumenta e surge sempre um novo personagem, que é acompanhado com cuidado pelas minhas lentes. Há sempre algo novo, embora pareça para alguns ser apenas “mais do mesmo”.
Voltando à pergunta inicial, se você nunca participou de uma festa dessas, recomendo. Elas oferecem uma oportunidade única de aprendizado e enriquecimento cultural. Essas celebrações são ricas em história, espiritualidade e tradições afro-brasileiras.
Ao se envolver com o Congado, você pode apreciar a riqueza dessas tradições, compreender melhor as lutas e resistências dos povos africanos e afrodescendentes e valorizar a força da cultura e da fé que sustentam essas manifestações. O dia do reinado é também um excelente ambiente para aprender sobre voluntariado, humildade, resiliência e alegria. Cada vez que participo de um, eu saio uma pessoa melhor do que entrei. É sempre uma experiência transformadora!
(*) Débora Guimarães é jornalista e fotógrafa. Apaixonada por criar, guardar e compartilhar memórias, pois acredita que toda memória importa!.