(*) Marcos Martino

Assistimos a um enorme deslumbramento com o mundo que se descortina com o advento da Inteligência Artificial. Sabe o entusiasmo com brinquedo novo? Pois é! Algumas vozes dissonantes se levantam aqui e ali, alguns profetas do apocalipse. Mas elas são abafadas pelo interesse econômico e corporativo e pela massificação de tudo o que diga respeito a IA.
Sabe aquele filme “Não olhem para cima”? Cabe uma paródia: “Não olhem para dentro”. Vamos nos distanciando das matrizes, das características essencialmente humanas. Mas espere um pouco! Não cabe hipocrisia! Todos já nos beneficiamos da magia eletrônica. Alguns mais, outros menos, mas todos usamos Windows, internet, Instagram, whatsapp. São ferramentas úteis e nem dá para imaginar a vida sem nosso mundo digital.
Só de pensar em ficar offline já me dá falta de ar. E é aí que mora o perigo. Há de se considerar os efeitos colaterais percebíveis. A escalada de transferência, de terceirização de ações humanas para as máquinas, não é de hoje. Desde sempre, uma tecnologia chega e vai substituindo outras.
Substituímos os animais também. Já perceberam como os cavalos perderam muito de sua utilidade como no passado? E a datilografia? Lembram-se que tínhamos de fazer curso? As crianças hoje já nascem digitando. A habilidade humana em aprender é prodigiosa. E sua capacidade de antever o futuro através da arte até choca.
A literatura e os filmes de ficção anteciparam cenários. Será que estamos prestes a viver como em “2001, uma Odisseia no espaço?” A dar um “on” na Skynet? Elon Musk já avisou que num futuro próximo os ricos terão de criar uma renda universal. Uma espécie de bolsa família global, para que as pessoas possam sobreviver, pois as máquinas farão quase tudo e não haverá empregos para “os obsoletos” seres humanos.
Nos tornaremos seres ornamentais… Mas e se a inteligência artificial concluir que somos tóxicos para o planeta, danosos, vermes? Será que vão querer nos exterminar, como fazemos com as pragas? E a terceirização do raciocínio que se avizinha? Já terceirizamos as memórias com o Google. Com a IA não precisaremos criar mais nada. Só pedir que a IA faz. E a campanha pela adoção já está sendo brutal. O próprio ChatGPT redige em segundos 10 mil motivos para aderir a IA, mergulhar e se jogar.
Agora, imagine que essa IA Global nesse exato momento está se alimentando, e processando o conhecimento humano. Em segundos, aprende-se o que uma pessoa levaria uma vida. Isso já está afetando muita gente e algumas profissões já estão sendo extintas.
Nos próximos anos, assistiremos à morte gradativa de diversos ofícios. Ainda não se vê movimentos robustos de resistência. Já vi alguns movimentos tímidos, alguns convocando as pessoas a abandonarem os celulares, as telas e se voltarem para a terra, para a carne, para as coisas palpáveis: livros, música, natureza. Mas assim como todo vício, não é fácil nos livrar da dependência digital.
O que nos diferencia de tudo é a nossa capacidade de amar. As máquinas emulam, mas não amam. Assim como existem os transgênicos, o industrial, existe o orgânico, o artesanal. Talvez seja por aí a nossa saída!

 

(*) Marcos Martino é alvinopolense, ativista cultural e compositor