As eleições municipais para a Câmara de João Monlevade trouxeram uma composição política interessante e complexa. Embora o prefeito reeleito Laércio Ribeiro (PT) tenha, a princípio, uma maioria numérica em seu favor, o apoio dessa bancada não é tão homogêneo quanto parece. Explico.
Apesar dos 12 entre os 15 eleitos serem de partidos da coligação do prefeito, a maior parte dos vereadores tem mais proximidade com o grupo político da vice-prefeita eleita, Dorinha Machado (MDB). Aliás, com o marido dela, o empresário “Machadão” e com o atual vice e grande articulador da campanha, Fabrício Lopes (Avante). Ou seja, a relação da Câmara será mais próxima deles do que com o próprio prefeito Laércio.
Essa aliança, embora possa oferecer certo suporte ao governo municipal, revela também que nem todos os vereadores estejam diretamente alinhados com o PT de Laércio. O prefeito terá na Câmara, mais perto de si, os petistas Belmar Diniz e Maria do Sagrado.
Para complicar, a relação entre Belmar e o PT não está bem. Mesmo vencedor no pleito, o filho do líder e ex-prefeito Leonardo Diniz tem queixado que foi “abandonado” pela legenda, não recebendo o costumeiro apoio nas últimas eleições.
É preciso lembrar que eleição e mandato são coisas bem distintas. Assim, dá para o governo Laércio se aproximar da nova Câmara, melhorando a relação com os reeleitos e construindo novas pontes com os novatos. Além disso, é fundamental que o prefeito, o PT e Belmar sentem juntos para discutir a relação numa boa e velha “dr”, como fazem casais em crise.
Agora, o governo “Laércio 3” enfrenta o desafio de equilibrar as forças dentro da nova Câmara e do próprio governo que será montado. Afinal, é preciso garantir que a sua agenda progrida sem grandes obstáculos. A articulação política será vital, pois, há grandes interesses em jogo.
O fato de a maioria dos vereadores eleitos ter ligações mais estreitas com Dorinha, Machadão e Fabrício é significativo. Os três exercem grande influência na política local e, ao que parece, a junção deles foi determinante para o sucesso nas urnas. Tanto no Executivo, quanto no Legislativo.
Um segundo mandato sempre é mais difícil e complicado que o primeiro. Imagina um terceiro então! É necessário, portanto, pensar na governabilidade. Para tanto, é prudente acertar as arestas, ampliar o que deu certo e revisar o que foi errado, minimizando as falhas.
Por outro lado, a relação com a Câmara precisa ser assertiva, apesar do prefeito nem sempre conseguir atender às demandas dos vereadores. E se, em algum momento, os interesses dos parlamentares entrarem em choque com os de Laércio, essa base de apoio pode se fragmentar. Especialmente, se houver pressões externas ou mudanças na dinâmica da Prefeitura.
Além disso, ressalta-se que nem todos os vereadores eleitos têm afinidade com o PT. Pelo contrário. Sinval Dias e Dr.Sidney são bolsonaristas e avessos declarados ao partido da estrela. Sem contar que outros vereadores, mesmo compondo a base, não necessariamente se alinham com as pautas petistas. Esse fator pode deixar o prefeito em uma situação delicada: ele terá de negociar constantemente, buscando construir pontes com essas diferentes forças.
A expectativa é que o jogo político de João Monlevade seja pautado por alianças pragmáticas, mas isso não impede que o governo Laércio tenha que ter mais habilidade na relação com a Câmara e com integrantes do governo. A eleição acabou e o novo governo já desponta no horizonte com alguns desafios à vista.