Tornou-se lugar comum dizer que a vida é uma viagem. Todavia essa verdade invoca a percepção de, a depender do caminho que tomado ou do destino que se busque, pode ser turnê ao paraíso ou excursão ao inferno; trajeto de luz ou de sombras.
A decisão tardia de executar melhorias nas condições da BR-381, que atende a uma região de grande produção metal-metalúrgica, com incomum volume de tráfego e acidentes, vem ao encontro de anseios mineiros de muitas décadas.
Do final dos anos 1950 até início da década de 1970, por imperativo médico, precisei fazer o percurso Monlevade-BH inúmeras vezes. A princípio o percurso demandava mais de cinco horas de viagem, em jardineiras que faziam duas paradas obrigatórias até o destino. Quando iniciávamos a subida, próxima a Caeté, a velocidade máxima, em dias bons, ficava entre 30 e 40km/h. Nas baixadas, a velocidade era assustadora, chegava a quase 80 km/h. No livro SOBRE VIVER COM PÓLIO, lançado no ano passado, há relatos dessas viagens, que apresentavam, então, um ar bucólico, interiorano, apesar do cansaço, do cheiro de diesel e fumaça.
E que coisa boa que agora (parece!) as obras de duplicação ou ampliação das margens, com o propósito de oferecer mais segurança a todos os usuários, vão ser retomadas com afinco pelo poder público. E já nem era sem tempo. Quantas vidas se perderam em tantos acidentes evitáveis? Quantos valores se eclipsaram pela lentidão, pelos perigos e assaltos de carga nessa via de escoamento tão importante e ao mesmo tempo tão desprezadas por tantos administradores públicos.
Quando da inauguração da Usiminas em Ipatinga, que na época era ainda Horto de Nossa Senhora, distrito de Coronel Fabriciano, esperava-se que essa rodovia fosse melhorada para atender a um crescente de produção siderúrgica constituída em cidades como Itabira; Monlevade e Ipatinga, estas emancipadas ambas em 1964.
Até essa época as PcD, no mais das vezes, eram tratadas como cidadãos inferiores, indignos de oportunidades ou respeito. O enorme desenvolvimento da região não incorporava quaisquer perspectivas de autonomia às PcD, inclusive aquelas que passaram à condição pelos acidentes, ou de trabalho na construção dessas indústrias e, posteriormente, em sua fase de operação; ou de trânsito nessa estrada, muitas vezes chamada de “rodovia da morte”.
Agora, finalmente, já decorrido um quarto do novo século, no terceiro milênio, os rótulos que estigmatizam o recorte social começam a se esvair, principalmente a partir de ações das próprias Pessoas com Deficiência. Há o reconhecimento, notadamente a partir da década de 1970, de que somos pessoas de direitos, com capacidades e competências que contribuem muito na construção de uma sociedade mais justa, em que se pode dispensar esmolas ou piedade e fruir o direito a respeito e a oportunidades.
Nesse contexto, a melhoria das condições dessa estrada importante, a BR-381, deverá trazer mais segurança e conforto aos milhares de usuários que, a partir de então, passam a estar bem mais distantes dos riscos de perder a vida e, claro, também de sofrerem sequelas por acidentes não provocados.