Começa nesta quarta-feira (7) na Cidade do Vaticano o conclave que escolherá o sucessor direto do Papa Francisco. Os 133 cardeais eleitores reúnem-se na Capela Sistina para, isolados do mundo e pelo voto secreto, elegerem o próximo ocupante do Trono de São Pedro. Para ser eleito Papa, o cardeal precisa obter, ao mínimo, dois terços dos votos de seus colegas, proibindo-se o voto em si mesmo, as “candidaturas” e as “campanhas eleitorais”.
Uma história talvez pouco lembrada é que o Médio Piracicaba já teve um cardeal, que participou de dois conclaves. Natural de Bom Jesus do Amparo, Dom Carlos Carmelo de Vasconcelos Motta, arcebispo de São Luís do Maranhão, de São Paulo e de Aparecida (SP), foi o terceiro cardeal da história do Brasil, nomeado em 1946 pelo Papa Pio XII.
Quando Pio XII faleceu, em 1958, ele participou da eleição de Angelo Roncalli, então Patriarca de Veneza, como Papa João XXIII. Em 1963, quando o “Papa Bom” morreu, o cardeal bom-jesuense voltou à Capela Sistina tomou parte na eleição de Giovanni Battista Montini, então Patriarca de Milão, como Papa Paulo VI. Os dois pontífices foram canonizados pelo Papa Francisco.
Dom Carlos Carmelo de Vasconcelos Motta ainda estava vivo em agosto de 1978, quando São Paulo VI faleceu. No entanto, como já havia alcançado os 80 anos em 1970, não pôde participar do conclave que escolheu Albino Luciani, o Patriarca de Veneza, como Papa João Paulo I. O “Papa Sorriso” surpreendeu o mundo ao morrer apenas 33 dias depois de eleito, obrigando os cardeais a um novo conclave que, novamente, não contou com o cardeal de Bom Jesus do Amparo. O escolhido em outubro de 1978 foi o polonês Karol Józef Wojtyła, arcebispo de Cracóvia, hoje lembrado com carinho pelos fiéis como Papa São João Paulo II.
Biografia
Nascido em 16 de julho de 1890 em Bom Jesus do Amparo, o cardeal Motta iniciou sua vida eclesiástica em 29 de junho de 1918, ao ser ordenado padre da Arquidiocese de Mariana. Em 1942, recebeu a ordenação episcopal e foi designado bispo-auxiliar de Diamantina. Já em dezembro de 1935, foi nomeado como arcebispo de São Luís do Maranhão, administrando também a recém-criada diocese de Pinheiro.
Em 13 de agosto de 1944, o Papa Pio XII o escolheu como Arcebispo de São Paulo, nomeando-o cardeal em 18 de fevereiro de 1946. Em seu governo, criaram-se a Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) e a rádio 9 de Julho, e consagrou-se a atual Catedral da Sé. Dom Carlos Carmelo de Vasconcelos Motta ainda foi o primeiro presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), instituição fundada em 1952, exercendo a função por dois mandatos e ainda sendo seu vice-presidente.

Em 1958, Pio XII o designaria como administrador da recém-implantada Arquidiocese de Aparecida, que assumiria definitivamente como arcebispo em 1964. Sua grande obra foi o atual Santuário Nacional de Nossa Senhora da Conceição Aparecida, consagrado pessoalmente pelo Papa São João Paulo II em 1980. Ainda participou do Concílio Vaticano II. Dom Carlos Carmelo de Vasconcelos Motta faleceu em 18 de setembro de 1982, em Aparecida, onde está sepultado. Hoje, a praça principal de Bom Jesus do Amparo carrega o nome de “praça Cardeal Motta”.
Lembranças de família
Mesmo falecido há mais de quatro décadas, Dom Carlos Carmelo de Vasconcelos Motta ainda possui familiares no Médio Piracicaba. Um deles é dona Rita Motta Moreira Bicalho, prima do cardeal, que completa 100 anos no próximo mês de julho lúcida e atuante nas atividades religiosas, principalmente como Ministra Extraordinária da Sagrada Comunhão. Ela recorda que, quando nasceu, em 1925, o primo já era sacerdote há sete anos.
Dona Rita conta que sua mãe se encontrava com o padre Motta anualmente, em Santa Bárbara, Bom Jesus do Amparo e Taquaraçu de Minas: “quando eu tinha dez anos, em uma das vezes que celebrou na Fazenda da Cascata, confessei-me e me lembro da penitência: pediu-me que rezasse cinco Pai Nossos pelas cinco Chagas de Jesus”. Depois de sua sagração episcopal, mudando-se para o Maranhão e depois para São Paulo, a convivência tornou-se mais restrita.
Dona Rita lembra-se que o primo celebrou a primeira Missa na nova capital brasileira, Brasília, o que ocorreu no dia 3 de maio de 1957. Uma foto de família recorda um dos aniversários do então Arcebispo de Aparecida, em julho de 1966. Da família de dona Rita, estavam a mãe, filhos, genros, noras e alguns netos. Dona Rita rememora que o cardeal Motta enfatizava a importância de implementar as reformas preconizadas pelo Concílio Vaticano II, realizado entre 1962 e 1965.

A família e a própria dona Rita conservam o fervor religioso: “Nossa família sempre foi católica, não por tradição, mas por convicção, e ensinou-nos os valores cristãos. Andávamos muitos quilômetros para participar de Missas e receber os sacramentos, e rezávamos diariamente o Terço”. A cidade da Padroeira do Brasil é constantemente visitada por dona Rita, arrastada pelo exemplo do primo: “Sua devoção à Padroeira do Brasil contagiou toda a família que, freqüentemente, visita o Santuário, idealizado por ele e onde está sepultado na Capela da Ressurreição”.
Como todos os fiéis do mundo inteiro, dona Rita aguarda a escolha do novo Papa, o que deve acontecer já nos próximos dias: “Como católica, espero que o próximo Papa seja iluminado pelo Espírito Santo, que seja fiel ao Evangelho, que siga o exemplo do Papa Francisco: humano, servo e humilde, que pregou a paz, a misericórdia e o cuidado com as pessoas e com a criação. Que o Espírito Santo ilumine os cardeais na escolha do novo Papa!”.
