Dezenas de monitoras da educação infantil e especial de instituições municipais de ensino realizaram um protesto na sessão dessa quarta-feira (12) da Câmara Municipal de João Monlevade. Com cartazes, elas pediam melhorias nas condições de trabalho para a classe, reajuste salarial, redução da jornada, pagamento da insalubridade, participação no planejamento das atividades, entre outras pautas.
Ao A Notícia, algumas se queixaram de que, para um expediente de oito horas de trabalho, recebem um salário-mínimo, sem direito ao adicional de insalubridade. Outra queixa é sobre a falta de participação no planejamento das atividades: “Somos as últimas a saber dos projetos”. Elas ainda apontam para a falta de candidatas às vagas de trabalho abertas, pois não há interessadas. Segundo contaram, a jornada é exaustiva, as condições são ruins e o salário é curto.
Bruna de Jesus conta que é responsável por uma turma de 17 crianças. Quando é necessário levar uma delas ao banheiro, por exemplo, é preciso chamar alguém do serviço administrativo ou da limpeza para tomar conta das outras 16. “Se uma monitora não pode comparecer ao trabalho, não há quem a reponha, e os seus alunos são repartidos entre as outras profissionais”, diz.
Uma das monitoras relata que precisou licenciar-se do trabalho em decorrência de uma crise de estafa. Segundo ela, algumas profissionais selecionadas desistem da função de monitora com dois dias de trabalho, tamanho é o estresse.
Sônia Alvarenga, monitora de alunos especiais, conta que precisa levar um estudante cadeirante de 14 anos ao sanitário, o que causa constrangimento, pois outros alunos também usam o banheiro enquanto isso.
Bruna de Jesus conta que, apesar da dedicação empregada no trabalho, a classe das monitoras não é reconhecida: “Nós, monitoras, somos incluídas na administração, como se cuidássemos de objetos, de máquinas. Cuidamos das crianças com o maior carinho, damos banho, cuidados das demandas que muitas vezes os pais não cumprem. Fazemos das tripas coração”. Ela elogia a direção da instituição de ensino em que trabalha, mas cobra mais atenção dos níveis mais altos da administração municipal.
Mais atenção
Falando em nome das colegas de profissão, Bruna pede mais atenção às monitoras escolares: “O sucesso da educação em João Monlevade depende de todos. Estamos cansadas de prefeitos e secretários de Educação conversando com a direção e a coordenação, e não conversando com a gente. A creche não funciona sem os monitores. E eu falo à população: queiram o bem de quem cuida do filho de vocês. A gente está ficando doente, a gente está ficando sobrecarregada. Além disso, a gente não é ouvida, a gente não é incluída. Temos muitas coisas a falar [ao prefeito] desde o último concurso, há oito anos”.
Críticas a propostas
Durante a manifestação, as monitoras rechaçaram o anteprojeto da “creche flexível” apresentado pela vereadora Maria do Sagrado (PT), que permite a antecipação da abertura e o postergamento do fechamento dos portões das creches municipais. Os cartazes levados à Câmara durante o protesto traziam frases como “Monitoras merecem respeito”, “Somos a demanda a ser estudada” e “Educação é Sagrado”, contrapondo a parlamentar.
Elas afirmam que o anteprojeto não considera a classe das monitoras, mas ao contrário, as sobrecarrega. Bruna expressa a sua insatisfação: “Já ficamos oito horas na creche. Vão tirar as nossas férias de julho? E as nossas famílias? E os nossos filhos?”. As monitoras também se opuseram a uma proposta de Leles Pontes (Republicanos) para que as creches funcionem durante as férias de julho.
Respostas
Em resposta às contestações das monitoras, Maria do Sagrado afirmou que o anteprojeto que institui a “creche flexível” gerou alguns “mal-entendidos” e equívocos de interpretação. Ela informou que a sua proposta contempla mães que chegam atrasadas ou perdem dias de trabalho em virtude de atrasos por conta da entrega das crianças nas creches.
A parlamentar indicou que os horários de trabalho podem ser ajustados para os novos horários de funcionamento, mantendo a jornada de oito horas, ou novos profissionais podem ser contratados. Maria do Sagrado ainda lembrou que o texto precisa ser reenviado pelo prefeito e votado pela Câmara para que se torne lei.
Nas redes sociais, Leles Pontes disse, mais de uma vez, que defende o funcionamento das creches nos meses de julho e dezembro. No entanto, pede que a Secretaria de Educação contrate outras profissionais em substituição às monitoras.