Fala aponta troca de favores entre Legislativo e Governo, inclusive, com observação de pastor Lieberth, sobre tratamento dado a vereadores da base

O vereador e líder do governo, Belmar Diniz (PT), fulminou em discurso o colega Gustavo Prandini (PCdoB) durante a reunião dessa quarta-feira (15) da Câmara Municipal de João Monlevade. O Legislativo aprovou em segundo turno a criação da Fundação Municipal do Parque do Areão e Áreas Verdes, uma das principais bandeiras do governo de Laércio Ribeiro (PT) e do próprio Belmar.

Na sessão, o texto recebeu 10 votos favoráveis e três votos contrários de Rael Alves (MDB), Revetrie Teixeira (MDB) e “Tonhão” (PDT), enquanto Fernando Linhares (Podemos) não pôde votar por ser o presidente. Prandini foi o único ausente do plenário durante a votação, embora houvesse comparecido à sede do Legislativo no início da reunião e registrado presença no sistema eletrônico.

Sem citar nomes, na mesma reunião, o vereador Pastor Lieberth (Podemos) já criticara que vereadores da base aliada não estavam recebendo um “tratamento tão bom” quanto outros que, segundo ele, não são fiéis à administração. A fala chamou atenção pelo tom de que há uma troca de interesses entre o Legislativo e o Governo.

Críticas

Em seguida, Belmar Diniz foi o primeiro a usar a tribuna após a vitória do governo, com aprovação do projeto. Comemorando-a, ele agradeceu os votos favoráveis e cumprimentou os colegas que se opuseram, reconhecendo a sua honradez, mesmo com os votos contrários.

Logo, ele extravasou sua ira contra o vereador e ex-prefeito, ausente no plenário: “Diferente do cidadão que estava sentado ali, que faz parte da minha federação, que é uma vergonha uma situação dessas. Poderia, pelo menos, assumir que é contra o Parque do Areão, senhor Prandini. Assuma que é contra o parque do Areão! Agora, não corre do pau não. Por que você não estava aqui? Estava por duas vezes no gabinete do prefeito, pedindo para atender seus eleitores. E tem quatro cargos na Prefeitura! É uma vergonha, uma vergonha ter um cidadão desse na federação que eu faço parte, de ter aceitado um cidadão desse”.

“Covarde”

Inflamado, Belmar não poupou adjetivos contra Gustavo Prandini: “Assume que você é contra, e venha aqui e vota contra, mas não foge do pau, não. Covarde! É covarde! Fico p… com um negócio disse. Desculpe o palavreado, presidente, mas eu fico p…, indignado. Como o Pastor falou, está sendo tratado aqui [bate na palma de uma mão com a outra], a pão-de-ló. Fazendo tudo para esse vereador. E merece? Me fala [sic] se um cidadão desse merece?”.

O líder do governo menosprezou a atuação de Prandini na área ambiental, e alertou Laércio Ribeiro e seu vice, Fabrício Lopes (Avante): “Vir bancar aqui de ambientalista, de estar do lado do governo. Está nada, não! Acorda, Laércio! Acorda, Fabrício! Tem uma base enorme que está aqui do seu lado, que está o tempo todo tomando pancada aqui. Por sua causa. E você recebendo esse cidadão, no seu gabinete, fingindo que está do seu lado! Mas nunca esteve. Um desabafo para a base do governo: ou vocês consertam ou ficam com ele, porque comigo não vão ficar, não”, afirmou veementemente.

Resposta

Gustavo Prandini chegou a voltar ao plenário por alguns instantes, mas logo saiu definitivamente. Ao A Notícia, ele disse que não vira o discurso de Belmar Diniz, porque estava ocupado. O vereador afirmou que mantém boas relações com o governo e com o PT de Monlevade. Além disso, disse que a educação recebida de seus pais ensinaram-no que: “quem se exalta perde a razão”, mas que não se sentia ofendido pelas declarações de Belmar.

Ressalvas

O vereador Tonhão criticou os gastos advindos da criação da Fundação, que, segundo ele, podem chegar a R$420 mil anuais apenas com a folha de pagamento dos servidores. Ele chamou a atenção para a falta de previsão orçamentária para a implantação da entidade, assinalada no próprio projeto, e que seria necessária a abertura de um crédito suplementar.
Ao A Notícia, Revetrie Teixeira manifestou preocupação com as finanças municipais. Ele disse que o novo ente público soma-se à recém-criada Secretaria de Desenvolvimento Econômico e à concessão dos pisos salariais à enfermagem e aos profissionais de educação, o que impactará os cofres da Prefeitura. Por isso, o vereador apresentou uma emenda ao projeto, que recebeu parecer pela ilegalidade, emitido pela Comissão de Legislação e Justiça. A emenda propunha a implantação da Fundação no ano de 2028. “Não sabemos o momento financeiro que iremos atravessar a partir de 2025. Por isto, apresentei a emenda”, declarou. Durante a votação, o parecer da comissão foi aprovado, com abstenção do vereador Revetrie Teixeira e voto contrário de Rael Alves. Desta forma, a emenda não foi a votação.