O delegado João Martins Teixeira, da Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher (Deam) de Itabira, concedeu na tarde desta sexta-feira (7) uma entrevista coletiva sobre a denúncia de abuso sexual contra um médico mastologista. Até o momento, a Polícia Civil trabalha com 10 vítimas, que procuraram a corporação para relatar o que passaram.

Delegado João Martins Teixeira, responsável pelas investigações, durante a coletiva – Reprodução

A polícia ainda trabalha para tipificar as condutas, que podem ser encaixadas como estupro, assédio sexual ou importunação sexual. As agressões, relatam as vítimas, passam por falas inapropriadas, toques indevidos e tentativas de “agarrá-las” dentro do hospital. Uma delas contou haver sofrido um estupro em sua forma mais “convencional”, com uso de força. O delegado ressaltou que o crime de estupro não ocorre apenas quando há conjunção carnal, mas quando há violência ou grave ameaça.

A idade das vítimas varia entre os 35 e os 52 anos, e a maioria é descrita como de classe social mais simples. Uma delas é de João Monlevade, e as demais, de Itabira. Cinco são pacientes do hospital, e as outras cinco são funcionárias. As apurações indicam que os ataques contra as trabalhadoras aconteciam em horários de menor movimento no hospital, sempre às escondidas, ou dentro do consultório, sem testemunhas. A denúncia mais antiga é relativa a 2015.

O delegado João Martins Teixeira destaca que a Polícia Civil quer deixar as vítimas o mais à vontade possível para denunciar o que passaram. Muitas delas, relata, estão em estado fragilizado, e algumas das pacientes faziam tratamento contra o câncer. Uma delas não percebeu de imediato o crime, mas apenas quando se consultou com outro médico e percebeu a diferença na conduta.

O médico já possui uma passagem policial um crime relacionado à posse de armas. Ele chegou ser intimado e a prestar um depoimento antes de ser preso, mas usou de seu direito de permanecer em silêncio. A ausência de respostas permaneceu no segundo depoimento, já depois da prisão, no qual ele esteve acompanhado por seu advogado.

A percepção é que ele acreditava que sairia impune em virtude de seu status social, por ser uma personalidade de prestígio. Durante a entrevista coletiva, o nome do mastologista não foi mencionado em um só momento pelo delegado.

A Polícia Civil tem dez dias, contados a partir da data da prisão, para concluir o inquérito, e aguarda os resultados dos exames periciais para prosseguir com os trabalhos. Na terça-feira (4), a corporação recolheu dois telefones celulares na casa do mastologista, que estão sendo periciados. No mesmo dia, ele foi preso, cumprindo um pedido do Ministério Público, e foi executada uma busca e apreensão e o recolhimento de seu passaporte, atendendo a um pedido da Polícia Civil.

Segundo o delegado João Martins Teixeira, as investigações estão na fase final, e em breve será remetido ao Poder Judiciário: “Não trabalhamos com a possibilidade de o inquérito não ser concluído no prazo”. Outras unidades policiais já foram comunicadas caso cheguem mais denúncias. O médico permanece detido no Sistema Prisional, à disposição da Justiça.