
O vereador Marquinho Dornelas (Republicanos) usou palavras duras na tribuna da Câmara para criticar a política cultural de João Monlevade. Na sessão da semana passada, o parlamentar se queixou do tratamento inferior dado aos artistas do segmento cristão em comparação aos blocos de Carnaval. Segundo Dornelas, que também é pastor da Igreja Batista da Lagoinha, as bandas gospel estão recebendo menos que os blocos para se apresentarem nos eventos da cidade.
O vereador apresentou dados obtidos junto ao setor de contabilidade da Prefeitura de João Monlevade. Segundo eles, alguns grupos seculares receberam entre R$10 mil e R$15 mil, enquanto as bandas cristãs recebem menos da metade desse valor. Nove blocos, informa o vereador, receberam verbas antes de suas apresentações.
O legislador subiu o tom: “Chega de perseguição religiosa, para quem fala que quem persegue é evangélico”. Ele defendeu a realização de todos os tipos de eventos, como a Cavalgada e os Festivais Baobá e Gastronômico, mas que haja equidade de tratamento entre todos os tipos de público e de gênero artístico: “Fazer festa para o seu bel-prazer, para aquilo que você gosta, é muito fácil. Mas política e democracia se fazem para todos”.
Dornelas classificou essa diferença nas verbas repassadas como “desumana”, e prometeu uma devassa nas contas prestadas: “Vou apresentar um requerimento na Câmara se não pagar mais os artistas das bandas gospel da nossa cidade. Vamos fazer uma audiência pública, trazê-la para aqui, saber quais artistas, quais agências ela está contratando. Vou apurar isso de perto, vou medir metro por metro de palco que ela está contratando, vou contar banheiros químicos”.
O parlamentar não citou nomes, mas deixou entender que se referia à diretora da Fundação Casa de Cultura, Nadja Lírio Furtado. Na visão do vereador, os eventos com temática religiosa ficam relegados a segundo plano, em benefício de outros tipos de público: “Não vou aceitar mais ter todo tipo de festa na cidade e o evento gospel ficar esquecido, parecendo que está fazendo favor para o público cristão. Não vou aceitar!”.

“Como é que eu faço perseguição religiosa fazendo um festival gospel com três bandas locais?”
Em conversa com o A Notícia, Nadja Lírio foi enfática ao rebater as acusações de Marquinho Dornelas, classificando-as como “mentira”. Ela inclusive contou que explicou ao vereador sobre a diferença entre cachês e os recursos repassados para blocos carnavalescos antes da fala dele na tribuna.
A diretora-presidente da Fundação Casa de Cultura explicou que as bandas locais são contratadas mediante credenciamento junto à Prefeitura e que recebem o mesmo valor, independentemente do gênero ou temática de suas canções, variando apenas conforme o número de integrantes do conjunto: “O preço é tabelado por formação e categoria de tamanho, a quantidade de pessoas no grupo, e se é renome municipal ou estadual”. Isso, segundo os editais de credenciamento da Fundação.
Nadja Lírio explica ainda que os blocos carnavalescos não recebem cachê. Eles recebem uma premiação, devendo usar esse valor na organização do bloco, além do cortejo, o que envolve a contratação das estruturas para a apresentação, como palco, sonorização, segurança ou banheiros químicos.
Já as bandas credenciadas para eventos, recebem cachê e têm as estruturas dos shows custeadas pelo poder municipal. Ela ressalta ainda que o credenciamento e todas as informações sobre a Fundação Casa de Cultura são públicos, podendo ser consultados por qualquer cidadão.
“Sem tratamento diferenciado”
Conforme Nadja, em 2025, será o terceiro ano consecutivo com uma apresentação nacional de música evangélica, e o segundo com um festival de bandas locais desse gênero. “Não há nenhum tipo de tratamento diferente para as bandas gospel. Pelo contrário! Temos procurado as bandas gospel para que se credenciem. Raramente elas se credenciam”.
Nadja Lírio ainda informa que, ainda no fim do ano passado procurou Marquinho Dornelas para ouvir sugestões e apontamentos para a organização da festa, mas ele não respondeu.
A chefe do setor cultural do município rejeitou enfaticamente a afirmação de que “faria festas a seu bel-prazer”, como insinuado pelo vereador, argumentando que a escolha das atrações não é feita segundo suas preferências particulares, mas privilegiando a variedade: “O aniversário da cidade, por exemplo, vai ter um sertanejo. Vou fazer um show de gospel, nacional, que foi definida em diálogo com a Câmara. E vai ter um samba, que é Mart’nália. A gente tenta fazer uma coisa que vai atender a todos os gostos, respeitando a variedade”.
A afirmação de “perseguição religiosa” feita por Dornelas na tribuna da Câmara Municipal provocou o repúdio de Nadja Lírio: “Como é que eu faço perseguição religiosa fazendo um festival gospel com três bandas locais? Como é que eu faço perseguição religiosa, se eu procuro a banda para se credenciar e estou procurando o líder da bancada evangélica desde o ano passado, para a gente conseguir organizar bem e ter todo o sucesso possível no evento gospel do aniversário da cidade?”. A diretora da Casa de Cultura ainda relembra que a religião protestante foi a única a ser contemplada com apresentações musicais custeadas pela Prefeitura durante três anos. Ela ainda reforça que defende a laicidade do estado, mas que respeita a diversidade.