Um grupo de monitoras de alunos especiais das escolas municipais de João Monlevade esteve recentemente na redação do A Notícia para relatar as más condições de trabalho. Camila Loureiro, Geralda Elizabete Cruz e uma terceira profissional, que optou por não se identificar para não sofrer represálias, contaram a rotina de trabalho delas.
Vencimentos curtos, falta de voz ativa, de estrutura para exercer a função e carga de trabalho exaustiva, são parte das queixas das profissionais. No dia a dia, com jornada de 40h semanais, elas auxiliam as crianças com algum tipo de deficiência em seu aprendizado. No entanto, relatam, acabam fazendo de tudo um pouco, para além da sala de aula: levar alunos ao banheiro, ajudar na alimentação e, às vezes, até dar banho. “Somos a extensão da criança. Somos babás, psicólogas, terapeutas”, contam.
Para ser monitor da educação especial, é preciso ter curso de Magistério, Pedagogia ou Normal Superior. No entanto, cada profissional recebe um salário-mínimo, mesmo trabalhando oito horas diárias, numa rotina que classificam como “exaustiva”. Em cada turno, contam, cada monitor cuida de três crianças, que podem ter diagnósticos diferentes. Os profissionais trabalham em paralelo aos professores, ajudando as crianças com algum tipo de necessidade especial em seu aprendizado, fornecendo atenção específica.

Críticas

Apesar de trabalharem diretamente com a educação das crianças até o 9º ano do Ensino Fundamental, bastante semelhante ao de um professor, as servidoras estão lotadas no quadro administrativo das escolas: “Nós não temos uma CBO, a Classificação Brasileira de Ocupações”, diz Elizabete. A demanda é que a classe seja considerada como profissionais de magistério, recebendo todas as prerrogativas de um professor: “Nós não apenas monitoramos, mas ensinamos”. Outra queixa é que as crianças recebem atividades de séries inferiores às suas, o que atrapalha o desenvolvimento de suas potencialidades latentes.
O trabalho é tão desgastante que os processos seletivos abertos para contratação não preenchem todas as vagas de trabalho disponíveis, pois não há interessados o suficiente. Atualmente, relatam, há 117 monitores para atender a 276 alunos atípicos. No entanto, a previsão é de que a demanda aumente, pois, muitos estudantes ainda estão sendo analisados para um possível diagnóstico.
As monitoras também se queixam da falta de participação no planejamento das atividades, que é apenas “despejado” para elas. Também falta um material individualizado, que esteja de acordo com o quadro de cada criança, pois cada uma delas possui um diagnóstico único. Elas pedem para que também sejam consideradas como parte importante no processo pedagógico: “Todas nós já alfabetizamos crianças. Hoje, fala-se muito em inclusão, mas não existe inclusão excluindo as monitoras”.
Os salários baixos forçam as profissionais a recorrerem a outras profissões para complementarem a renda familiar. Elizabete explica: “Eu sei bordar, Camila é advogada, e ela sabe tudo sobre trabalhos manuais”. Outra queixa é a falta de um plano de carreira para a categoria, que, segundo elas, estaria engavetado na Prefeitura de João Monlevade. Os profissionais lamentam a falta de suporte da Secretaria Municipal de Educação. Ainda há o problema da negligência de muitas famílias, como conta Camila: “Para muitos pais, a escola é a hora de folga deles”.
Elas apontam a demanda reprimida por terapia ocupacional e fonoaudiologia, que tem cerca de 80 crianças na fila de espera. A última vez que passaram por um treinamento de primeiros-socorros foi há mais de cinco anos, ministrado pelo Serviço Voluntário de Resgate (Sevor).

Protesto

No último dia 12 de março, dezenas de monitores, tanto das creches municipais quanto da educação especial, realizaram uma manifestação na Câmara Municipal de João Monlevade. Levando cartazes, eles pediram por respeito à classe, melhores salários e condições de trabalho. Eles também criticaram o anteprojeto apresentado pela vereadora Maria do Sagrado (PT) que criaria a “creche flexível”, por considerarem que a iniciativa não ouviu os anseios da classe e ainda deixa pontos sem resposta, como a jornada de trabalho das monitoras.
Depois da visita das monitoras de alunos especiais, o A Notícia recebeu uma mensagem de uma das monitoras de creche que participaram do protesto a 12 de março, dizendo que a visita dividia e enfraquecia o movimento de toda a classe por melhores condições de trabalho e salário, pois enfocava apenas parte dos trabalhadores.

Respostas da Prefeitura

Questionada sobre a demanda, a Prefeitura de João Monlevade informou que o salário das monitoras é de R$1.597,71, enquanto o salário-mínimo vigente em 2025 é de R$1.518,00. No entanto, afirma a administração municipal, “o enquadramento como profissionais do magistério é inconstitucional porque não se pode equiparar uma categoria a outra, uma vez que no Plano de Cargos elas são diferentes. E, também, quando prestaram concurso público, eles fizeram para carreira específica”, afirma a gestão.
O Executivo diz ainda estar discutindo o novo Plano de Cargos e Salários, que entende como uma forma de melhorar as condições da categoria: “O município contratou uma consultoria especializada para a elaboração e revisão de legislações municipais, com foco na modernização da gestão de pessoas, planejamento de carreiras e estruturação administrativa do município de João Monlevade. Esta consultoria tem um cronograma de 12 meses para a entrega do resultado”, afirma o Executivo.