Divulgou-se, recentemente, em mídias sociais, alguém se referenciar às PcD como sendo responsáveis pela inflação e pela carestia dos bens de primeira necessidade…
Quando trato de história, resgatando a vida, as experiências e os legados de pessoas que fizeram a diferença, para o bem ou para o mal, nessa jornada da humanidade, faço-o consciente. E valho-me da célebre frase de Edmund Burke, irlandês nascido em 1729, filósofo que se tornou político inglês, admirado pelos também célebres filósofos Kant – alemão, e Diderot – francês:
“Um povo que não conhece a sua história está condenado a repeti-la”
A visão inicial, deturpada, e totalmente superada nos dias atuais, que determinadas pessoas tentam revisitar, como os preconceitos em relação a quaisquer diferenças de etnia; opção sexual, política ou religiosa; condição física ou social; não deveria merecer destaque. Mas, infelizmente, há um público que não vislumbra o poder nefasto que tais considerações podem produzir.
Hoje se considera, cientificamente, que o início da civilização humana, não remonta ao descobrimento da roda; ao domínio do fogo; nem tampouco aos primórdios da agricultura. Um fêmur rudimentarmente recuperado de uma fratura, indica o início da preservação da vida humana. O valor da pessoa passa a ser observado por seu intelecto ou pelo encanto que inspira. Antes do sucesso dessa tentativa de salvar a vida de um semelhante, quando alguém sofria um dano tão grave quanto uma grande fratura ou ferimento, era abandonado como “boi de piranha”, ou seja, que ficasse ali e alimentasse o eventual predador enquanto os outros escapavam. A descoberta científica determina que um ou mais membros do grupo se dispuseram a se arriscar para manter alguém vivo, a ajudar outro ser humano.
Noutra extremidade, fundado no completo desamor, a história resgata o extermínio de bebês com deficiência, ditas inaptas para a vida, na Grécia antiga. Também, no século XX, aconteceu a eliminação de pessoas de quaisquer idades, pelo programa Aktion-T4, aplicado como eugenismo e eutanásia na Alemanha nazista, que matou cerca de 275 mil pessoas. Idosas ou tidas como “inválidas”, termo que já foi até oficial para referência às PcD.
Imagine-se, por exemplo, o quanto perderia a humanidade sem a maestria dos escritores que viveram a deficiência total ou parcial: da visão, o argentino Jorge Luiz Borges; o português Luiz de Camões; o Irlandês James Joice ou os ingleses John Milton e Aldoux Huxley. Ou, ainda, dos músicos como o italiano Andrea Bocelli; o porto-riquenho José Feliciano; os americanos Steve Wonder e Ray Charles; e, claro, da nossa doce carioca, Kátia.
E o nome do entrevistado que fez a declaração infeliz? Não pretendo aqui decliná-lo, não somente por merecer o total desprezo, mas por fazer jus apenas às cortinas fechadas para seu espetáculo sem luz.
Milhões de pessoas vibram por aqueles que fazem a vida mais bonita e melhor, como bem observado por Caetano Veloso em “Podres poderes”:
… Eu quero aproximar
O meu cantar vagabundo
Daqueles que velam
Pela alegria do mundo… Indo mais fundo
Tins e Bens …
Para aquele entrevistado: Silêncio!