Até parece fórmula aritmética, ou comando em programação de computadores: “Se-Então”. Para conseguir algum bem ou favor pelo qual, por razões diversas não se possa pagar em espécie, logo vem a promessa. Muito comum para conseguir bênçãos, no cristianismo católico, em “acordo com Deus”. E na esmagadora maioria das vezes, a contrapartida é alguma penitência, muitas vezes fáceis, como rezar, deixar de comer alguma coisa por algum tempo, ou mesmo deixar, temporariamente, algum vício. Nesse último caso o promitente tem duas vantagens se conseguir a graça: o objeto da promessa e a vantagem de economizar em saúde ou dinheiro em relação ao vício.

Há também as promessas a amigos e familiares, na maioria das vezes sem necessidade de contrapartida, apenas um mimo futuro, caso as condições não se oponham ao desejo. Já no caso de pessoas em relações amorosas, o nível de contrapartidas é equilibrado, uma parte com, outra parte, sem. Especialmente quando se tratar de reparação de algum incontrolável malfeito, real ou imaginário. Aí as promessas são enfeitadas com presentes diversos, dependendo da condição financeira, podendo ser nada, flores, chocolates ou joias. Varia também de acordo com a razão da desculpa aliada à mesma promessa.

De tantas que há, as mais malvistas e cada vez menos acreditadas são as de políticos em campanha. Muitas delas são feitas no calor do momento, sem qualquer responsabilidade por cumprir, inclusive por se tratar de demandas estapafúrdias, como emprego, próteses, benesses pessoais. Os representantes não são eleitos para atender a questões pessoais dessa natureza. Quando todos compreendermos isso, talvez os níveis de corrupção que assolam o nosso País, sofram severas reduções. E as pessoas comecem a entender que bens devem ser adquiridos com a contrapartida do trabalho de cada um. E seria bom que nosso povo se interessasse por aprender com a história, inclusive mais que contada, cantada pelo bom Gilberto Gil em “Procissão” (1967) em parceria com Edy Star: “Muita gente se arvora a ser Deus / E promete tanta coisa pro sertão / Que vai dar um vestido pra Maria / E promete um roçado pro João / Entra ano, sai ano, e nada vem / Meu sertão continua ao Deus-dará …”

Já fiz algumas promessas em troca de algum “milagre” que, a princípio, imaginei que nunca se cumpririam. Mas, até por não pesar muito a mão naquilo que prometia, caso fosse contemplado, optei por levar a cabo o prometido, independente de receber ou não aquilo que pedi em troca. Até bem pouco tempo, tinha plena convicção que a parte “do lado de lá”, teria sido esquecida ou simplesmente descartada. Afinal não conseguia ver resposta objetiva para minha eventual súplica. Talvez seja o famoso caso bíblico da “trave no olho”, bastante divulgado e, provavelmente, pouco compreendido. E, de novo, recorro a uma canção de 1982, de Gilberto Gil: “Andar com fé”; porque, “…a fé não costuma falhar.” Mesmo com o caminhar fisicamente desequilibrado, o caminho percorrido até o ponto onde me encontro só seria possível a quem alcançou a graça.