(*) Débora Guimarães

Era dezembro de 2019. Fim de ano e os noticiários vinham mostrando, dia após dia, que um novo vírus causava problemas em um reino que parecia tão-tão distante… E tudo acontecendo em meio às festas e à necessidade de interação social dessa época. Naquele tempo a trigésima, talvez centésima coisa na lista de preocupações de quase qualquer um do lado de cá do mundo era ele. O vírus. E tudo o mais que ele poderia acarretar de ruim.
Janeiro de 2020. As notícias ganhavam mais espaço. Ainda sem noção da gravidade, memes com o nome dado à doença surgem às centenas. Ainda assim, a famigerada Covid-19 parecia coisa de livro de ciências da sexta série. Ou de cinema. Você escolhe. Enquanto isso, Minas estava embaixo d’água, batendo recorde de volume de chuvas, com várias cidades em situação de emergência. Esse, naquele momento, era um grande problema neste canto do país.
Fevereiro. Já se falava por todo lado sobre as formas mais eficazes de evitar que o vírus avançasse: mãos sempre limpas, álcool gel à disposição e distanciamento social, resumidamente. Mas aqui era Brasil, país do que mesmo? Carnaval! E isso é sinônimo de? Multidões!
Não demorou muito e o que parecia um problema de um reino tão-tão distante, se mostrou realmente ameaçador. Cenas atemorizantes eram exibidas em sequência, mostrando como vários países já vinham enfrentando o problema. Caos.
Aí chegou março e vem a pergunta: você se lembra como estava sua vida no período entre o Carnaval e o dia em que a Organização Mundial de Saúde usou o termo pandemia, em 11 de março e, em seguida, o mundo parou?
Naquele momento, rotinas foram desfeitas em centenas de milhares de lares. Crianças deixaram de ir à escola. Pais deixaram de trabalhar. Outros, ligados à área da saúde, continuaram trabalhando e os cuidados necessários eram tantos que a volta para casa passou de corriqueira a sonho num piscar. Foi como se tivessem laçado o mundo e ele simplesmente parou. Parou para quem precisava colocar comida na mesa. Para quem precisava ser alfabetizado. Parou para quem fazia acompanhamento por algum problema de saúde e teve seus atendimentos suspensos por questões de segurança. Para quem promovia eventos, quem trabalhava neles e para quem os frequentava. Parou até mesmo para as tias que gostavam de se reunir para tomar um café ou os tios que jogavam dama nos fins de tarde nas praças. Depois disso, o resto é história. E você, que conseguiu passar por ela e se manter neste plano, viu como é fazer parte de algo tão surreal que parecia ter saído de um livro.
Quatro anos se passaram desde então. Desde que achamos que viveríamos um novo normal e que o normal de antes nunca mais voltaria a existir. Não faz nem um ano que o fim da pandemia foi decretado, ainda que as festas já estivessem reunindo multidões famintas por diversão e interação desde bem antes. E, nesse intervalo, muita gente esqueceu. Esqueceu como lavar as mãos. De tapar a boca ao tossir. De não falar em cima do outro. De dar espaço em filas. De vacinar seus filhos contra tudo para qual houver vacina. De tanta gente que se foi sem essa chance.
Este texto é para lembrar que o pior passou, graças a Deus e à Ciência. E lembrar também que se você está aqui hoje, você é privilegiado. Honre os que partiram. Para eles e seus familiares, o mundo realmente parou.

 

(*) Débora Guimarães é jornalista e fotógrafa. Apaixonada por criar, guardar e compartilhar memórias, pois acredita que toda memória importa!.