Por Marcos Martino

Claro que existe uma pré-história, que não sei se foi devidamente contada, mas sem dúvidas, o divisor de águas para o surgimento da cidade foi o visionário francês Jean Monlevade. Não fosse a sorte dele ter vindo parar aqui nos trópicos, talvez Monlevade nem tivesse esse nome, teria se tornado mais uma cidade agrícola, poderia continuar distrito de Rio Piracicaba… Mas Jean cruzou os oceanos e chegou aqui. O que veio depois foi desdobramento. Eu acredito na tese do jornalista e escritor Erivelton Braz, de que o espírito iluminista do Jean continua vivo, levado adiante por pessoas que honram o seu legado.
Não fosse por isso, uma cidade que tem o menor território entre todas da região, não teria alcançado tamanho desenvolvimento. Como alvinopolense, tive o primeiro contato com a cidade bem pequeno e foi de passagem. Eu me recordo: a primeira vez que vi as chamas azuis da então Belgo, fiquei muito impressionado. Parecia um filme de ficção científica…
Não sei dizer exatamente por que, mas na minha infância, tive mais contato com o centro histórico, com o gigantismo da Usina. Por isso tenho grande simpatia com a parte antiga da cidade que considero muito charmosa. Só depois fui conhecer Carneirinhos, que tornou-se importante centro comercial e de prestação de serviços.
Quando adulto, senti-me honrado por ter sido convidado pelo então prefeito Gustavo Prandini para trabalhar na comunicação do governo, depois na Cultura. Foi oportunidade de imersão e entendimento da alma monlevadense, uma cidade que começou francesa, depois ficou luxemburguesa, voltou a ser francesa e depois indiana, mas é principalmente mineira e brasileira.
Uma megaempresa miscigenada, que naturalmente atraiu talentos de tantas cidades do Brasil e, claro, das vizinhas, e oportunizou o desenvolvimento e a qualidade de vida para gerações e mais gerações. Fui recebido de forma muito respeitosa em Monlevade. Fiz muitos amigos com os quais nunca mais deixei de interagir e, de certa forma, me sinto monlevadense.
Tenho imensa satisfação sempre que retorno, sempre que caminho pelas ruas, quando tomo um café na Padaria Globo, quando caminho pela avenida Getúlio Vargas. Gosto da cultura pulsante, que fala os dialetos de tantas cidades, da parceria, da generosidade das pessoas. Claro que ainda há muito a fazer. São apenas 60 anos de emancipação, mas o futuro tende a ser glorioso, pois o farol iluminista continua girando, projetando luz e inspirando as consciências.
Para terminar, ouso um pitaco: as cores oficiais da cidade não condizem com a plasticidade, com a estética iluminista do município. Adotaram marron e um verde meio musgo (burro fugido). Na minha opinião, o dourado-vermelho-laranja do aço em altíssimas temperaturas e as labaredas azuis da Belgo/ArcelorMital deveriam ser as cores do município, mais vibrantes, mais alegres, pra mim, mais condizentes com a energia que emana de João Monlevade. E, para finalizar, reafirmo minha admiração pela cidade, sua gente, sua arquitetura desordenada, sua cultura que se renova, seus horizontes abertos… Parabéns João Monlevade, pelos 60 anos!