(*)Erivelton Braz
Misoginia é uma prática que desvaloriza, discrimina e violenta a mulher. Muitas vezes, é ódio ou aversão a elas, manifestado através de atitudes e comportamentos que reforçam normas patriarcais. Principalmente, na política. Embora maioria na sociedade, as mulheres continuam minorias nos espaços de poder. Na região, das 17 cidades, temos uma prefeita. Em Monlevade, há apenas uma vereadora, dentre os 15 parlamentares.
E justamente na primeira reunião desta legislatura, tivemos um lamentável episódio contra a única mulher eleita. A vereadora Maria do Sagrado (PT) foi deliberadamente ignorada pelo colega Sinval Jacinto Dias (PL). Esse é um retrato da misoginia estrutural que persiste na política brasileira. O silenciamento de mulheres em espaços de poder é um fenômeno histórico e precisa ser combatido.
Durante seu discurso, Sinval fez questão de citar nominalmente todos os novos vereadores homens, omitindo o nome de Maria do Sagrado. Ao ser questionado, em vez de corrigir sua falha, desmereceu a colega com um tom pejorativo, sugerindo que sua exclusão se devia à sua filiação partidária. Essa retórica de Sinval é antiga. É seu estilo tentar desequilibrar emocionalmente seus opositores. Porém, a Câmara não é lugar para esse comportamento que, além de infantilizar a oposição política, mascara um preconceito enraizado: a tentativa de deslegitimar a mulher no exercício do poder.
A misoginia na política não se manifesta apenas por insultos diretos, mas também pelo desprezo sutil, pela fina ironia e pela tentativa de apagar a presença feminina. Quando Sinval reafirma a omissão do nome de Maria, mesmo alertado por outros parlamentares, e quando justifica seu comportamento dizendo que “Maria do Sagrado precisa mostrar serviço”, ele reforça a narrativa machista de que mulheres precisam provar constantemente sua competência para ocuparem um espaço que, por direito, já lhes pertence. E por que só ela precisa mostrar serviço para ter o nome citado? Os demais homens não?
A resposta de Maria do Sagrado foi exemplar. Ela pediu desculpas por ter justificado sua presença, interrompendo a fala do vereador. Não precisava pedir desculpas por não ter sido propositadamente notada. Mesmo surpreendida pelo comportamento retrógrado do colega, cobrou respeito e reafirmou a importância da presença feminina na política. A falta de representatividade feminina no Legislativo é um problema grave e, quando uma mulher finalmente conquista esse espaço, encontra resistência e desqualificação.
Este episódio é um chamado à sociedade para que não tolere mais esse tipo de comportamento. Ainda mais, na primeira reunião do mandato que começa. A misoginia na política precisa ser combatida com firmeza, e a população deve exigir de seus representantes um compromisso real contra essa prática. Mulheres em todos os setores, sobretudo na política, não precisam de permissão para ocupar seus espaços. Elas precisam é de respeito e apoio para exercerem seus trabalhos em paz, sem serem sistematicamente silenciadas.
(*) Erivelton Braz é editor do A Notícia e fundador da Rotha Assessoria em Comunicação