A história de João Monlevade sempre esteve ligada à siderurgia. Nossa economia, nossos empregos e o dia a dia da cidade dependem, em grande parte, desse setor. No entanto, essa dependência nos deixa vulneráveis a mudanças que fogem do nosso controle. Dois fatores recentes evidenciam esse risco: a decisão da ArcelorMittal de não expandir sua produção e as novas políticas comerciais dos Estados Unidos para o aço.
Minha intenção não é questionar a importância da ArcelorMittal para João Monlevade. Pelo contrário, toda a estrutura produtiva que depende da empresa – fornecedores, prestadores de serviço, comércio local e a arrecadação municipal – é essencial para a cidade. No entanto, depender quase exclusivamente desse setor nos deixa vulneráveis às oscilações do mercado e às mudanças no cenário internacional. Isso não significa substituir a siderurgia, mas sim ampliar as oportunidades, inclusive dentro do próprio setor, para que João Monlevade tenha um crescimento mais seguro e sustentável.

A imposição de tarifas de 25% sobre a importação de aço pelos Estados Unidos cria dificuldades para os exportadores brasileiros e impacta diretamente a competitividade da indústria siderúrgica local. Esse tipo de política, conhecida como “mercantilismo moderno”, busca proteger a economia interna americana, mas gera impactos negativos em cidades como a nossa, que possuem forte dependência desse setor.
A consequência prática disso não se resume apenas à produção de aço. Fornecedores, transportadores, prestadores de serviço e o comércio local também sentem os efeitos dessa mudança. A arrecadação tributária municipal pode ser afetada, reduzindo a capacidade de investimento da prefeitura em infraestrutura, educação e saúde.

Outras cidades já enfrentaram desafios semelhantes. Detroit, nos Estados Unidos, sofreu com a crise da indústria automobilística na década de 1980, e Volta Redonda, no Brasil, viu sua economia abalada pelas mudanças no setor siderúrgico na década de 1990. Em ambos os casos, a falta de diversificação econômica foi um agravante.
Isso não significa abandonar nossa vocação siderúrgica, mas sim ampliar as oportunidades econômicas, investindo em áreas como tecnologia, economia verde e serviços de alto valor agregado.

Essa transformação não acontece por acaso. Ela depende de lideranças preparadas, planejamento estratégico e, principalmente, de um trabalho conjunto entre governo, setor produtivo e a comunidade. Somente com essa união será possível construir alternativas sólidas para o futuro econômico da cidade.
Decisões tomadas sem embasamento técnico podem custar caro no futuro. É fundamental que João Monlevade tenha uma gestão baseada em dados concretos, com políticas públicas que incentivem a inovação e a atração de novos negócios. Além disso, a comunicação entre a administração municipal, os empresários e a população, precisa ser clara e objetiva.
O cenário atual pode ser encarado como um obstáculo ou como uma oportunidade. Se tivermos a capacidade de planejar e agir estrategicamente, essa crise pode ser um ponto de virada para João Monlevade, abrindo caminho para um crescimento mais sustentável e menos vulnerável às oscilações do mercado.

O desenvolvimento da cidade não pode ser decidido no improviso. O momento exige responsabilidade, visão de longo prazo e uma atuação coordenada entre o poder público, o setor produtivo e a sociedade.
João Monlevade tem potencial, tem história e tem recursos. Agora, precisa dar o próximo passo. As cidades que se reinventam são as que prosperam. Que João Monlevade esteja entre elas.

(*) Thiago Henrique dos Santos é especialista em Políticas Públicas, Governança e Planejamento Estratégico, ex-secretário de Desenvolvimento Econômico de João Monlevade, autor de Governança para um Futuro Sustentável e Governança Territorial, Participação e Desenvolvimento