Setembro é um mês muito aguardado por bastante gente, pois ele marca a transição do inverno para a primavera. As flores surgem, as temperaturas ficam mais altas e, muitas vezes, as pessoas ficam até mais felizes vivendo em dias tão lindos. Setembro também é um mês que, em época de seca, pode se tornar cinza por conta das queimadas, como está acontecendo no momento em que escrevo esse texto. Mas não é nenhum desses assuntos que vim tratar hoje.
Você ou alguém que conheça sofre de depressão? Então, permita-me contar historinha. Hoje o assunto é esse. Vem cá!
Há quase dez anos eu faço tratamento. Foram várias as tentativas de dar certo mas que começou com um diagnóstico errado e me tirou quase um ano e meio de vida saudável e ativa, com um bebê em casa. Depois do novo e correto diagnóstico vieram outras tantas tentativas de acertar uma medicação que realmente funcionasse. Eram comuns as recaídas, algo que preocupava o médico, a quem chamo de anjo. Eu vivi numa rodinha de hamster por muito tempo. Sabe o que me salvou? Aceitar que não tenho super-poderes e, depois do remédio certo, não ignorá-lo, não fazer de conta que ele não faz parte da minha rotina e, simplesmente, tomá-lo todo santo dia.
Estamos no que é chamado de Setembro Amarelo, mês em que devemos dar ainda mais voz a quem pode e quer ajudar pessoas que, como eu, sofrem dessa doença. Sim, é uma doença. Depressão não é um estado de espírito, algo passageiro, controlável sem os devidos cuidados. Para lidar com a depressão é preciso, primeiro, aceitar que algo está errado e, em seguida, procurar e aceitar ajuda.
Se sua depressão está escondida atrás de um sorriso, olhe pra dentro. Tristeza que não passa não é normal nem bem-vinda. No meu caso, havia choro, muito choro. E medo. De absolutamente tudo, especialmente da morte. Nunca pensei em me deixar sucumbir. Sempre quis estar viva, queria meus dias felizes de volta mas, ao mesmo tempo, não queria ver ninguém, não queria sequer me enxergar. Lá no fundo uma voz gritava implorando para ter lembranças vivas na memória porque, sim, no meu caso a memória e a concentração foram para o espaço, pouca coisa importante ou feliz ficou gravada dos dias mais difíceis. Queria voltar a dormir apenas pra descansar para o dia seguinte e não me enfiar na cama ou no sofá a cada oportunidade de fechar os olhos e esquecer que a vida existia. Acredite, se você está nessa situação, você precisa e muito de ajuda. Essa fuga não é apenas cansaço.
Então, te peço: se você ou alguém que conhece sofre desse problema, não evite o tratamento. E, se possível, confie em uma equipe multidisciplinar para te ajudar, começando por psiquiatra e psicólogo. E, como diria meu médico (que não me vê faz um longo período porque estou medicada e ótima), não tente nenhum ato heróico. Eu já tentei. Cheguei a pensar que depois de um tempo dava pra viver sem medicação. Só que não dava. Ainda não dá. E eu não estou preocupada se dará um dia, porque eu quero viver, mesmo que, enquanto eu viver eu precise dessa ajudinha e precise visitar a farmácia com frequência.
Cuide-se. Cuide de quem você ama. E se você conhece alguém que precisa de uma mãozinha para procurar ajuda, encaminhe essa coluna pra ele. Se eu ajudar uma só pessoa hoje, já estarei feliz. Até a próxima!