(*) Mário Ananias
É bem verdade que sábado haverá o desfile das Escolas campeãs do Rio de Janeiro. Busca-se, assim, prolongar ao máximo a alegria do carnaval de todos os anos. Ademais, é outra oportunidade para aqueles que gostariam, mas não puderam assistir ao majestoso espetáculo que já integra o calendário internacional de eventos. Não era para menos, trata-se de um desfile monumental, cheio de magia e disposição para um trajeto com, aproximadamente, uma hora, de danças e performances. Haja energia.
Para torná-lo ainda mais fascinante, como observado na genial letra de “O Rei de Ramos” (1980), Chico Buarque, Dias Gomes e Francis Hime: “Ele disse pra escola caprichar / no desfile da noite de domingo / com ginga, com fé / Pediu muita cadeira a requebrar / muita boca com dente pra caramba / e samba no pé”.
Como se pode depreender do texto musical, uma das maiores qualidades entre os componentes das alas, além do bailar com graça, são os sorrisos que arrastam o povo para um estado de completa e emocionante alegria. E é importante que se entenda a dimensão alcançada para milhares de pessoas. São empregos, são sustento para diversas famílias, especialmente entre o recorte social menos aquinhoado. Então, que bom que existe o carnaval.
Agora, para a maioria do país, restam as lembranças de momentos de euforia, de relaxamento, de exaltação e músicas envolventes, dançantes. Ou, como no caso de saudosistas como eu, lembrar das músicas mais antigas e, por isso mesmo, mais interessantes, pois que duram anos e anos, sendo reinventadas a cada etapa em novos carnavais. A felicidade nunca sai de moda.
Até, quando alguma situação adversa nos assalta, como me ocorreu num carnaval em Pirapora, é possível surpreender o problema usando uma das armas mais poderosas contra eventual tribulação: o sorriso.
Já altas horas, já bastante cansado, me sentei no banco de uma praça próxima à praia do São Francisco, para esperar pelos amigos que ainda tinham disposição de sobra para festejar. Não demorou muito e o sono me venceu.
Ah! Tudo era comemoração. Por que me preocupar? Recostei no banco, dobrei a camiseta à guisa de travesseiro, tirei as sandálias de couro cru que comprara numa viagem a Alagoas e me rendi ao cansaço. Como a expectativa era que o pessoal não demorasse muito, mantive o aparelho ortopédico na perna de forma a evitar a demora em calçá-lo quando viessem. A festa estava tão boa que só chegaram quando um sol radiante saltou detrás das verdes colinas.
Mesmo durante a madrugada o calor estava muito forte, convidando gentil a dormir ao relento, sob um céu repleto de estrelas, embalado pela música do quiosque em que o carnaval seguia pleno.
Levantei devagar e percebi que a camiseta sumira. Olhei no chão, atrás e na frente do banco e nada. Então notei que também as sandálias não estavam mais ali. Mas a carteira com pouco dinheiro e documentos estava preservada. Questionado quanto a estar bem, apesar de ter sido roubado, respondi sincero: “Eu tô feliz!”.
(*) Mário Ananias é monlevadense, servidor público, escritor, palestrante e autor do livro: Sobre Viver com Pólio. Contato: mariosrananias.com.br/