(*) Anágnia Flois
No cenário da Sexta-feira Santa, entre os fiéis que percorriam a Via Sacra em um trajeto que, provavelmente, ultrapassa três quilômetros de caminhada, entre a garagem da Gontijo e a igreja Nossa Senhora do Carmo, algo além das estações da Paixão de Cristo capturou minha atenção. Era a ausência, não só física, mas estética da arquitetura urbanística em João Monlevade, uma cidade que se desenvolveu economicamente, mas que parece ter perdido o rumo no que diz respeito ao cuidado com seu espaço urbano.
À medida que o calor excessivo me fazia transpirar, minha mente divagava para além do contexto religioso, adentrando nos espaços e nas ruas da cidade que, infelizmente, revelam um cenário de descuido e abandono. Enquanto eu registrava as imagens da Via Sacra como voluntária na Pastoral da Comunicação, não pude deixar de notar a sujeira que parece permear os recantos urbanos de Monlevade, assim como as falhas na mobilidade para os pedestres, especialmente aqueles com limitações de locomoção.
Um sentimento de desapontamento se misturou à minha devoção, e me vi impelida a refletir sobre o estado atual de minha cidade natal. Em um ano marcado pelas eleições, é impossível não conectar essas observações à esfera política, no entanto, minha abordagem é desprovida de viés partidário. Trata-se, antes de tudo, do desejo sincero de ver Monlevade resgatando sua essência e trilhando o caminho de beleza e cuidado que sua cidade irmã, Rio Piracicaba, tem percorrido.
Enquanto Monlevade permanece estagnada em sua aparente falta de atrativos urbanos, Rio Piracicaba floresce com projetos arquitetônicos inovadores, transformando seus espaços públicos em locais de beleza e funcionalidade. O contraste entre as duas cidades é gritante: enquanto em uma as pessoas passam de trem desejando parar para explorar de perto, em outra, quem passa pelos trevos de entrada não se sente convidado a visitar.
Chegou o momento de Monlevade se reerguer, de voltar às suas raízes e abraçar a jornada rumo à revitalização urbana e à valorização de seus espaços públicos. O investimento em infraestrutura e em projetos urbanos não apenas embelezaria a cidade, mas também promoveria uma mudança significativa na qualidade de vida de seus habitantes.
À medida em que nos aproximamos do aniversário de 60 anos de emancipação política de João Monlevade, é hora de abandonar a complacência e abraçar uma visão de futuro que priorize a beleza, a funcionalidade e o cuidado com o ambiente urbano. Que esta seja a nossa missão coletiva, como cidadãos comprometidos com o bem-estar e a prosperidade de nossa cidade.
(*) Anágnia Flois é monlevadense, jornalista e pedagoga