(*) Nadja Lírio Furtado
Há mais de quatro anos, assumi o leme da nossa Casa de Cultura, um desafio que abracei com a alma inteira. Desde o início, defini duas prioridades: transformar a Casa em um espaço para todos, com ações e eventos que alcançassem diversos públicos, e viabilizar o desenvolvimento de uma cena cultural forte, diversa e valorizada, com cachês dignos e respeito ao nosso patrimônio imaterial. Para isso, era fundamental estruturar a instituição, garantir respaldo legal, aderir às políticas estaduais e federais e regulamentar o atendimento a artistas e à população. Esses objetivos seguem norteando meu trabalho.
Com esse compromisso, criamos o primeiro Plano de Cargos e Salários da história da Fundação, que organizou a equipe com cargos técnicos e administrativos. A sede foi reformada, ganhou novos equipamentos e melhores condições para trabalhadores e visitantes. A escola de artes da Casa hoje tem aulas de artesanato com costura criativa, pintura e desenho, dança (balé, jazz, afrozumba), violão, musicalização infantil, canto, bateria, teclado, violino e capoeira. São centenas de famílias que usufruem desse serviço.
Avançamos nas políticas públicas com a regulamentação dos conselhos e fundos de Cultura e Turismo, a realização de fóruns anuais e a Conferência Municipal de Cultura, que garantiu representação da cidade em etapas estaduais e nacionais. Pela primeira vez, João Monlevade integra o Mapa do Turismo Brasileiro e o programa ICMS Turístico, reconhecido pelo Ministério do Turismo.
No patrimônio, conquistamos as maiores pontuações da história do município no ICMS Cultural. Projetos como “De Jean a João” garantem educação patrimonial e difusão, enquanto “ALÁTÚNỌE” resgatou a memória dos 247 escravizados que contribuíram para a fundação da cidade. Ações como a “Volta Histórica” e o Prêmio Louis Ensch uniram arte, esporte e valorização da memória. Todo o ICMS Cultural foi reinvestido na preservação e educação patrimonial, somando centenas de milhares de reais.
A cena cultural floresceu com eventos que primam pela diversidade. Foram realizados mais de 180 shows de artistas locais, 60 regionais/estaduais e 21 nacionais, contemplando rap, samba, gospel, sertanejo, pop, rock, forró, pagode, funk, axé, jazz, soul, orquestras, corais, chorinho, seresta, MPB e instrumental, além de teatro, circo, dança, palestras, debates e cursos. Festivais como o Baobá e o Mistura (Gastronômico) mobilizaram milhares de pessoas, promovendo igualdade racial e turismo. O carnaval foi resgatado com o “Esquenta Monlé”, apoiando os blocos locais, e o “Natal Luz” e o aniversário da cidade ganharam celebrações grandiosas e descentralizadas.
Outro avanço crucial foi o Edital de Credenciamento de Artistas, criado em 2021 para democratizar contratações. Ao contrário do que se pensa, esse mecanismo amplia o acesso: qualquer artista pode se inscrever e receber cachê digno e tabelado, conforme o nível de portfólio (regional ou estadual) e a composição do grupo (solo, dupla, trio, quarteto, quinteto, etc.). Isso garante equilíbrio entre cachês, evita disparidades e dá oportunidade real a todos. A documentação pedida é apenas a exigida por lei, garantindo a legalidade do processo. O credenciamento é amplamente divulgado, e a Fundação está sempre disponível para orientar os interessados.
Os desafios ainda não foram vencidos completamente. Todos os dias aparecem novos. Mas hoje Monlevade faz parte do mapa da cultura, não por um grupo famoso ou por um evento tradicional, mas por uma multidão de ações e políticas culturais bem-sucedidas. Agradeço ao prefeito pela confiança, à minha equipe e a todos que colaboram com o nosso trabalho. Seguimos firmes na luta por uma cidade cada dia mais criativa e potente, e que as políticas a nortear esse caminho sejam democráticas, humanitárias e, principalmente, culturais.
(*) Nadja Lírio Furtado é diretora- presidente da Fundação Casa de Cultura de João Monlevade