Desde terça-feira (10), a região de Mata Atlântica no entorno do Santuário da Serra do Caraça, entre as cidades de Catas Altas e Santa Bárbara, está sendo queimada por um incêndio. A Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) é um dos patrimônios naturais que abriga espécies da flora e fauna, como lobos-guarás, que vivem na região.
Equipes dos bombeiros militares e brigadistas tentam conter as chamas, além de duas aeronaves. Conforme divulgado, vinte e cinco homens estão lutando para apagar o fogo, mas estima-se que mais de 1.000 hectares já foram queimados. Porém, especialistas afirmam que a área total queimada só poderá ser mensurada posteriormente, com auxílio de satélites.
O fogo está cerca de 5 km do Santuário da Serra do Caraça. O local é composto pelo antigo colégio e seminário, pousada e restaurante. É um dos patrimônios naturais e históricos de Minas Gerais, com 250 anos de história.
Serra do Caraça
Fonte: Wikipédia
A serra do Caraça é um trecho da serra do Espinhaço localizado nos municípios de Catas Altas e Santa Bárbara, sendo o Santuário do Caraça patrimônio de Catas Altas, no estado de Minas Gerais, Brasil. Também dá nome ao antigo Colégio Caraça, onde importantes personalidades da história brasileira estudaram. Hoje, o ainda conhecido por Parque Natural do Caraça ou Complexo Santuário do Caraça é uma Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN), que abrange toda a região.[1][2][3][4][5]
O nome oficial do complexo é o Santuário de Nossa Senhora Mãe dos Homens, mas o Caraça tem esse apelido devido à forma que tem parte da serra, que lembra o rosto de um gigante deitado. A serra forma imenso anfiteatro alongado, com os três picos do morro da Trindade, o da Conceição; ao sul, as serras da Olaria e da Canjerana, a Serra do Inficionado, o morro do Sol, a serra do Carapuça. Anfiteatro de quatro quilômetros de largura, terreno em leves ondulações florestadas. As águas da bacia descem em belas cascatas das montanhas, como Cascatinha, Cascatona e Bocaina. Tais cascatas se abastecem dos ribeirão do Caraça, águas intensamente ferruginosas. No Caraça há dois lagos, o Tanque Grande, rodeado de bosques, e o Tanque São Luís.
O disco de Milton Nascimento, Missa dos Quilombos, foi gravado ao vivo, em março de 1982, nas dependências da Igreja Nossa Senhora Mãe dos Homens.
História da Serra do Caraça
Os primeiros registros sobre a serra do Caraça datam de 1700. Neste ano, a serra foi concedida em sesmaria ao Padre Filipe de Siqueira Távora, e aos mineiros Domingos Borges e a Antônio Bueno e Francisco Bueno que, com seus outros irmãos, vieram minerar ouro em suas encostas.[6]
A Ermida do Caraça
Na segunda metade do século XVIII, um misterioso personagem, conhecido como Irmão Lourenço de Nossa Senhora, instalou-se na serra, tendo como objetivo a fundação de um eremitério, visando o fortalecimento da vida religiosa no interior da capitania.
Supõe-se que o misterioso religioso, irmão leigo da Ordem Terceira de São Francisco da Penitência, fosse um refugiado político português ligado à famosa “Revolta dos Távoras“, tentativa de assassinato do rei D. José I de Portugal, reprimida a ferro e fogo pelo Ministro Sebastião José de Carvalho e Melo, o célebre Marquês de Pombal.[6]
No seu testamento, Irmão Lourenço se declara natural de onde os Távora tinha um morgadio São João da Pesqueira e seu simbolismo é evidente: Caraça, segundo dicionários antigos português, significa uma sacada onde pessoas foram queimadas e o nome Lourenço é de um santo que morreu na fogueira.[6]
O certo é que em pouco tempo, Irmão Lourenço conseguiu, não sem a ajuda do governo colonial, edificar um monastério e uma igreja em estilo barroco, concluída em 1779, bem como reunir em torno de si uma comunidade religiosa que chegou a contar com 12 eremitas. Desde então o Caraça tornou-se lugar de peregrinação. Irmão Lourenço morre em 1819, deixando sua fundação em herança ao rei Dom João VI.[6]
O Colégio do Caraça
D. João VI entregou as terras e o eremitério à Congregação da Missão (padres lazaristas), cujos primeiros membros – Padres Leandro Rebelo Peixoto e Castro e Antônio Ferreira Viçoso – chegaram ao Brasil em 1820. De imediato, os padres transformam o eremitério em Colégio.
Aqui começa a época de glória da serra do Caraça. O colégio se caracterizou por sua seriedade e disciplina. Com períodos de pleno desenvolvimento, mas igualmente com fases de decadência, tornou-se referência do ensino para a elite de todo o Brasil. Dois futuros presidentes da república aí fazem seus estudos – Afonso Pena e Artur Bernardes – e outros tantos ex-alunos se tornaram governadores de estado, senadores e deputados, altas autoridades eclesiásticas.[6]
No século XIX, o colégio foi visitado pelos Imperadores Dom Pedro I e Dom Pedro II, cujas impressões ainda podem ser vistas no Museu do Colégio ou ainda na Biblioteca.[6]
Na segunda metade do século XIX, a velha Igreja do Irmão Lourenço, que se tornara demasiado pequena para o número de alunos do Colégio é substituída por outra, mais ampla, em estilo neogótico. Nela se pode contemplar a gigantesca e magnífica tela com o tema da “Última Ceia” do pintor mineiro Mestre Manuel da Costa Ataíde. Aí se encontram igualmente o corpo embalsamado de São Pio Mártir, um soldado romano martirizado, belos vitrais de procedência francesa e o órgão de tubos instalado pelo padre Luís Boavida, marceneiro e músico.
O colégio funcionou até 1968, quando um incêndio destruiu parte das instalações destinadas aos alunos. Tal sinistro destruiu igualmente parte do precioso acervo da biblioteca.