(*)Débora Guimarães

…tudo vira memória! O momento em que você descobre que está gerando uma vida rapidamente se transforma no momento em que a descoberta é compartilhada com outro alguém. E depois, com o mundo. Aí vem a expectativa e com ela, os preparativos. Compras, preparação do corpo e da mente para receber um novo ser que será parte de você. O chá, que pode ser de bebê, de fraldas, de revelação ou de bençãos. Não importa o nome que você dê, tudo vira memória!
E, quando menos se espera, esse novo ser chega e muda tudo! Muda a rotina, muda sua forma de ver o mundo, seu horário de dormir (isso quando você dorme!). Muda também sua capacidade de fazer coisas. Ah, pois muda mesmo e para melhor! Você descobre que consegue fazer tantas coisas simultaneamente e com sucesso que deixa qualquer homem mais atento ao redor de queixo caído! E esses dias corridos, as noites mal dormidas, os almoços que esfriaram no prato ou as mil fraldas trocadas nos primeiros meses, tudo isso, tudo mesmo vira memória!
De repente, você passa a não ser a única referência da vida do bebê ou da pequena criança. De mãos dadas ou ainda no colo, você o leva para a escola, onde estará rodeado de pessoas novas e um mundo de possibilidades. Talvez ele chore para ir. Talvez chore por não querer ir embora para casa (acredite, acontece!). A adaptação flui, o coração fica mais leve, os Dias das Mães tornam-se datas ainda mais especiais e, quando você se acostuma com as apresentações e cartões feitos à mão, vem a primeira formatura. E, de novo, tudo, tudo vira memória!
Uma nova fase se inicia, uma nova escola, mil novas perguntas curiosas todos os dias. Todos, sem falhar um! Não tem mais fraldas já faz muito tempo, mas ainda tem muita dependência, necessária ao desenvolvimento e aprendizado. Talvez uma nova escola, nova rotina, novos coleguinhas. Quem sabe até uma pandemia nesse contexto, para chacoalhar tudo o que já estava mudando e mudar mais uma vez. E com ela, mais dependência, aprendizado e você refazendo os primeiros anos do fundamental, como na sua infância, para ensinar seu filho em casa!
Muitos aniversários começam a surgir, alguns deles já sem a mãe e o pai por perto. As brincadeiras com os colegas da escola já não são tão simples e as primeiras grandes descobertas talvez comecem a acontecer sem você por perto. Estão crescendo e às vezes você nem se dê conta. E, percebendo ou não, tudo segue virando memória!
Por aqui, hoje, completamos dez anos criando e guardando memórias! Da primeira fralda ao primeiro dia sem chupeta, do primeiro dia de aula à última festa junina na escola atual, a primeira consulta na pediatra e a que aconteceu esta semana, quando a conversa já não foi mais com a mãe. É tudo memória. E, sabe o que eu tenho pensado nos últimos meses? Que bom que nesses dez anos nós cultivamos as melhores memórias que pudemos, mesmo nos dias corridos ou no marasmo preocupante do isolamento social.
Há meses, senti necessidade de me preparar para a fase que virá, mas para hoje, se eu pudesse assoprar as velinhas e fazer um pedido, certamente seria “que meu filho se lembre com amor e sorrisos dos nossos melhores dias”. Mas as velinhas são dele. O pedido é ele quem faz. No meu coração, celular e em nossos álbuns de fotografia está tudo bem guardado. Quando chegar a vez dele de sentir nostalgia, que ela venha feliz e tranquila, como tudo de bom que fizemos por ele até aqui. Parabéns pra nós, meu filho!