Nesta sexta-feira (14), o Trio Migrazioni lança “Kelelê” nas plataformas digitais. A canção, em ritmo dançante, remete à beleza e à energia de culturas de matriz africana. Muito balanço afro-caribenho com versos em língua africana kikongo e em português. Esse trabalho é uma das faixas de álbum que envolve relações entre Brasil e Itália, programado para o final deste ano.

O trio é formado pelo cantor Toni Julio, de João Monlevade, Kal dos Santos (percussão), de Salvador (BA) e por Davide Perduca (violão), de Milão, cidade onde vivem os três artistas.

O lançamento do single é parte do projeto “Migrações/Migrazioni”, idealizado no ano passado por Toni Julio e seu conterrâneo Wir Caetano, compositor-letrista e jornalista. Os dois são autores da letra de “Kelelê” em português, parceria com o músico africano Donat Munzila, da República Democrática do Congo e imigrante na Itália há décadas, que compôs os versos em kikongo.

Na última terça-feira (11), o Migrazioni antecipou a execução da música na rádio italiana Popolare, durante o programa “Avenida Brasil”. Na ocasião, o cantor monlevadense aproveitou a ocasião para citar o lugar que trabalhadores escravizados tiveram na fundação de Monlevade. O artista destacou que esses africanos e afrodescendentes, deixados à margem da historiografia oficial, foram celebrados em projeto [intitulado “Alatunsé”] desenvolvido conjuntamente pela Fundação Casa de Cultura, Conselho Municipal de Promoção da Igualdade Racial (Compir) e por seu parceiro Wir Caetano.

Foto: Divulgação

Afeto e alegria

 

“Kelelê”é um zouk, ritmo afro-caribenho. A palavra que dá título à canção é expressão que comunidades tradicionais da República Democrática do Congo gritam festivamente quando nascem crianças, principalmente se forem gêmeas. O termo tem também o sentido de “barulho” em suaíli, uma das línguas faladas naquele país.

Os versos em kikongo falam de festa e glorificação da vida. A letra em português, além de afeto, amor e energia, celebra ícones e valores da cultura afro-brasileira. “Me jogou no zouk / joguei a preta no jongo / (…)/ eu joguei na língua dela um bem / ela me jogou milongo”, diz parte da canção. “Milongo” é “remédio” ou “cura” em quimbundo, falado principalmente em Angola.

Temperando os versos e o ritmo, estão as vozes principais de Donat Munzila e Toni Julio, que também integram o coro composto ainda pelo baiano Kal dos Santos, sua filha Clara Luna, Priscila Gama e Davide Perduca. Já os timbres instrumentais ficam por conta de Donat (baixo, congas, maracas); Davide (violão); e Kal (tan-tan, reco-reco, apito). Todas as etapas da gravação foram feitas no Marte Recording Studio, em Milão.

A música, que, além das plataformas de streaming, já pode ser ouvida em algumas rádios de Monlevade, será também executada no Pré-Carnaval de João Monlevade, no carro de som do Bloco Tineca, no próximo dia 22. Já no dia 3 de março, no Carnaval de Belo Horizonte, será a vez do bloco Sou Vermelho animar sua concentração com “Kelelê”.

 

Migrações/Migrazioni: culturas que migram

 

O projeto Migrações/Migrazioni tem por objetivo divulgar a produção musical de seus integrantes no Brasil e na Europa, valorizando culturas de matriz africana, tecidas ao longo de experiências migratórias forçadas ou voluntárias. Um álbum homônimo, que, além de “Kelelê”, terá mais nove canções, com participação de convidados, é o principal produto planejado pelos artistas. Turnês e oficinas também estão entre as ações propostas.

Um total de oito faixas do álbum são composições de Wir Caetano com seu parceiro regular, Zecrinha, de Senhor do Bonfim, no sertão da Bahia. Uma parceria de Toni Julio com Kal dos Santos, além de outra do italiano Davide Perduca com sua namorada, a harpista pernambucana Priscila Gama, completam o trabalho.

A ideia de elaboração do projeto nasceu depois que, em agosto de 2023, Toni Julio e Wir Caetano produziram, no Real Esporte Clube, o show Migrações, quase completamente autoral, com grande sucesso. O fato de o cantor monlevadense ser imigrante na Itália, entrecruzado com a história da diáspora africana e a peculiaridade de seu trabalho envolver artistas de diferentes localidades, levou ao conceito e ao nome Migrações/Migrazioni. Para viabilizar a empreitada, uma campanha de financiamento coletivo foi lançada no ano passado.