Para quem já assistiu a alguns filmes de superação pessoal, em que um personagem se perde em ambiente ermo, deserto ou floresta; ou ainda aqueles em que uma catástrofe se abate sobre uma cidade ou país, vai se lembrar de um ponto em comum: as pessoas buscam alternativas para a preservação da própria vida ou a daqueles que amam. Em outras películas, o heroísmo descende de uma capacidade inata, muitas vezes não percebida pelo próprio herói, até o momento em que se vê numa situação ruim e irreversível.
Em 2010 um desses filmes, “127 horas”, retratou a experiência de um montanhista que se viu preso numa grota e teve que tomar atitudes absolutamente radicais que, enfim, apesar de uma amputação e outros problemas graves, lhe permitiram sobreviver. Há estórias de escavadores em que alguma explosão ou desastre natural fechou o que seria a única saída de uma caverna ou mina e que, sem como retornar, seguem adiante e encontram uma saída desconhecida por não ter sido explorada ainda.
E não apenas soluções humanas “mágicas” permeiam os olhares sobre o tema. Em 1991, o ator de nome impronunciável, Arnold Schwarzenegger, estrelou a sequência “Exterminador II – Dia do Julgamento”. Em uma cena ambientada numa siderúrgica (que me lembrou os fornos da ArcerlorMittal, em Monlevade), o robô protagonista quase foi eliminado com um trilho metálico que atravessou seu corpo na altura do que seria o tórax humano, interrompendo as conexões de seu processador central (ou o cérebro, se fosse um homem) com os seus membros. O processador então busca alternativas para manter o religamento da máquina. Funcionou. E a batalha foi vencida.
Desde meus seis meses de idade, sou paraplégico em decorrência da Poliomielite. E vimos há muito tempo lutando para manter erradicada esta e outras doenças evitáveis, através de informações quanto métodos de imunização ou tratamento.
As citações acima servem para ilustrar como uma pessoa que tenha restrições físicas, sensoriais ou intelectuais em sua vida, pode contribuir com a sociedade através da sua adaptação a uma nova condição de existir, apesar da deficiência.
Um desgaste severo nos tendões dos ombros obrigou-me a uma cirurgia reparadora no direito, portanto imobilização durante a recuperação. E uma forte queda, no mesmo período, causou consistentes restrições temporárias ao braço esquerdo. Com isso, os membros superiores estão, provisoriamente, inoperantes e os inferiores, definitivamente.
Ou seja, estou passando por uma dura experiência de tetraplégico. Ouvi de algumas pessoas próximas: “Eu não aguentaria!”. Aproveito a competência de Ivan Lins e Vitor Martins para fazer minhas as suas palavras no título “Desesperar Jamais!” (1979).
(*) Mário Ananias é monlevadense, servidor público, escritor, palestrante e autor do livro: Sobre Viver com Pólio. Contato: mariosrananias.com.br/