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10 de Novembro de 2023
Padre cobra ação do município para salvar matriz São José Operário

Não existe construção mais simbólica para João Monlevade que a matriz São José Operário, no bairro Centro Industrial. Primeira igreja da cidade, edificada pela Companhia Siderúrgica Belgo-Mineira (CSBM) na década de 1940, ela chama a atenção por seu formato arrojado, sendo considerada a única igreja do mundo em forma de “V”, de Vereda, Verdade e Vida.
No entanto, conforme o A Notícia vem acompanhando há mais de três anos, a histórica edificação vem passando por uma perigosa deterioração estrutural: uma movimentação de terra nos fundos da igreja leva umidade às suas paredes, que sofrem com as infiltrações e o mofo. Em vários locais do templo, é possível ver a pintura danificada, e as longas manchas mofadas que se erguem. Duas das pinturas da Via Sacra precisam de restauro. Em algumas partes, o piso cedeu o suficiente para que uma pessoa tropece; durante as Missas, o espaço afetado chegou a ser isolado com correntes para evitar que fiéis se acidentem. 
Ainda há outros problemas. As portas estão desgastadas e uma delas já tem uma fresta que permite ver o que está do outro lado. A pior situação está no salão paroquial do andar inferior, onde a porta perdeu um de seus perfis. Vários dos bancos do templo estão com rachaduras. Mármores e madeiras estão quebrados. Faltam detalhes nos belos confessionários, e os dois órgãos eletrônicos precisam ser restaurados, além da parte elétrica do templo. 

Desabafo 

No último dia 25 de setembro, a paróquia São José Operário completou 75 anos de fundação, mas não houve comemorações. Ao fim da Missa do dia anterior, o padre realizou um “desabafo” junto aos fiéis, apontando para a negligência da Prefeitura de João Monlevade para com a igreja. A sua principal queixa é contra a burocracia e a lentidão junto aos órgãos municipais para liberar recursos para as obras. “A paróquia realiza campanhas e arrecada doações, mas as despesas são muito maiores”, afirma. 

Ações

Segundo o padre, a ideia inicial era remover toda a terra dos fundos da igreja, para então impermeabilizar e cimentar o terreno. No entanto, diz o padre, a atual administração teria considerado que a remoção descaracterizaria o projeto do templo. O cimento foi posto sobre a terra, e uma antiga e desusada cozinha, já sem telhas, foi demolida. Ainda assim, diz o padre, uma faixa de terra permanece desnuda, o que permite que a água penetre e umedeça a parede. Além disso, aponta o padre Jefferson, em vez de direcionar a água à canaleta, o cimento o faz em direção à matriz. Por conta disso, ele considerou o serviço ruim. 
Já os velhos painéis elétricos, usados desde a década de 1940 e que corriam risco de incêndio, foram substituídos, mas os tubos com a fiação foram instalados fora das paredes das sacristias. A gruta de Nossa Senhora de Lourdes e a praça também precisam ser constantemente limpos, uma responsabilidade do município que nem sempre é executada. 
Um dos problemas foi resolvido com a boa vontade dos paroquianos. A rampa de acesso à secretaria e à entrada dos fundos da matriz apresentava uma grave ondulação, pois os blocos do piso estavam se afastando. “Em quatro dias, com materiais obtidos pela própria comunidade e trabalhadores voluntários, a rampa foi recuperada”, informa o sacerdote. 
Em seu desabafo na Missa, ele disse que muitas pessoas em João Monlevade usam a imagem da matriz e dizem que ela é um ponto turístico tombado, mas poucos se mobilizam para salvá-la. O sacerdote disse que já se encontrou por cinco vezes com o prefeito Laércio Ribeiro (PT) e membros da equipe governamental, ouvindo promessas que a igreja receberia apoio, o que nunca foi cumprido. Ele também afirmou que não admitirá que, durante a corrida eleitoral de 2024, a igreja seja usada como palanque. 

Prefeitura

Procurada, a Prefeitura de João Monlevade informou que, “de acordo com a Secretaria Municipal de Obras, o projeto executado objetivou acabar com os problemas de infiltração aos fundos da Igreja”. A obra, realizada pela Sondart Sondagens, Fundações e Serviços Ltda-M.E, com valor de contrato de R$107.588,75. O valor pago em serviço executado foi de R$91.111,16.
Questionada sobre a faixa de terra deixada nos fundos da igreja, a Prefeitura diz que, de acordo com a Secretaria de Obras, o contrato licitado previa apenas a execução de serviços de reconstrução do passeio para conter a infiltração. Para que seja feito todo o concreto do fundo nessa faixa que ficou faltando, terá que ser feito novo convênio com as tratativas técnicas e legais. A Prefeitura vai avaliar uma forma de resolver a questão. Ainda segundo o Executivo, não há previsão de novas obras por parte do município.

Tombamento

Desde 2018, o templo é tombado pelo Patrimônio Histórico Municipal, devido à importância arquitetônica, histórica, cultural e afetiva que representa para o município e para a comunidade monlevadense. Assim, o bem é protegido e fica sujeito às diretrizes de proteção estabelecidas em lei, não podendo sofrer intervenções sem prévia deliberação do Conselho Municipal do Patrimônio Cultural de João Monlevade e aprovação da Fundação Casa de Cultura.